líria porto
ao tirar o sutiã tirava os peitos
o recheio todo feito de algodão
precisava ser mulher de qualquer jeito
o seu corpo foi fazer revolução
começou por arrancar aqueles pelos
que habitavam suas pernas sua cara
e deixou que lhe crescessem os cabelos
e vestiu roupa de flor –– a que sonhara
já não era decassílabo o soneto
nem tampouco o heroico alexandrino
travestiu-se de mulher algo divino
caminhava pelos becos pelo gueto
como fosse a mais bela das rainhas
e ostentasse uma coroa com espinhos
*