eu me livre da inútil exposição
cale a minha boca baixe o meu facho
resguarde-me dos arroubos verborrágicos
afaste-me dos risinhos e ironias
tenha um dia a sensatez
dos sábios
nossa humanidade consiste
em nos sentirmos fortes como o tronco das árvores
capazes de resistir às intempéries
e estarmos tão vulneráveis quanto a folha
que a qualquer momento
pode se desprender
grato pelo verso que me deste
pelas letras que brincam entre meus dedos
pelo gesto que permite a um ateu
poema tão singelo quanto o gelo
derreter-se ao sol
grato pela musa que voa até mim
com asas de andorinha
do mundo nada se leva
bem nos diziam os antigos
então brinquemos de roda
dancemos cantemos alto
ou fiquemos em silêncio
tais como velhos amigos
daqueles que se entendem
a cada lágrima
ou suspiro
(eu sinto a morte me chama
pois me espere –– e sentada)
quando alguém afirma
ela se foi para sempre
ele tira o retrato do bolso
pisca-lhe o olho esquerdo
dá-lhe um sorriso e murmura
:
todos eles são tolos
não sabem que estás aqui
um moreno tão bonito
ao fitar o seu semblante
toda a pele se eriça
bate um frio baixo-ventre
logo acende um pisca-pisca
deus do céu o que são issos
premências?