líria porto
tão grande quanto o amor materno
maior amor do mundo
o amor-próprio
*
líria porto
não vim tapar buraco
recompor mesa
fazer de conta
sou parte
ilusãoes não me alimentam
não sou e não serei
flor na lapela
(eu me represento)
*
líria porto
eu nao me propaguei
fantasiaste-me antes de me conferir
foste na lábia das palavras
(poetas fingem)
e vieste com os teus pés
e te arriscaste como um risco
que traçasse o preciício
ou um pintor que se pendurasse
num pincel
*
líria porto
o doutor moisés
(edealizador de muralhas)
não é para bico da vaca profana
[especialista na detecção de estalos
trincas e rachaduras]
compreendida a relação
silêncio / mudança / distÂncia
(re)partiu-se em si mesma
e tentará
entre os seus e suas
a (re)construção da palestina
(a puta continua)
*
líria porto
bocas têm o poder de calar outras bocas
pelas palavras que proferem
pelos beijos
*
líria porto
não ser não ter sido
quem tanto amaste
uma tristeza
que não tem tamanho
soubesse
adivinhasse
chegaria antes
e te consolava
não chorarias
virias comigo
*
líria porto
soubesse onde estarias
iria lá pra rever-te
entre_ver mesmo num flash
e depois sumir
*
líria porto
de tudo que eu quis saber
que me quiseste contar
mais que todas as palavras
tua emoção
:
passados anos e anos
tu te comoves e sofres
pelas perdas pelos danos
(posso entrar?
dás-me licença?)
*
líria porto
soterram-nos
roem-nos as veias
desencapam nossos nervos
fazem-nos dependentes ridículos
revelam nossas inseguranças
e nos humilham
*
líria porto
o porco chauvinista
tinha uma tara
fêmeas de certa idade
pérolas enviadas
num fio de nylon
(bijuterias
segundo seu focinho)
*
líria porto
mamífero
ocasionalmente de quatro
não é quadrúpede
:
não o subestimes
o facho cai
a ficha não
*
líria porto
a primeira não - a última
a que te cerrasse as pálpebras
cobrisse com flores teu corpo
e te pranteasse
a que se vestisse de noite
e jamais te deixasse perdido no além
a que te guiasse
estrela na escuridão
*
líria porto
sitiados por instintos e sentimntos
amor e desejo nos sufocam
necessitamos oxigênio
*
líria porto
olhos não têm cerca
e a maioria dos homens
interessa-se por outras mulheres
insinua-se conta vantagens
arrasta-lhes a asa
(até os comprometidos)
carne fresca na praça
o glutão inicia a ginástica
deixa de comer amido
prepara-se para nova conquista
para fincar sua bandeira
expandir o território
sempre há novidades
*
líria porto
talvez ainda pudéssemos
num último encontro
- nem aí nem aqui -
no meio do caminho
num lugar desconhecido
e num momento único
dizer fazer conhecer tudo
sobre todos os amantes
reais e imaginários
como fosse o fim do mundo
então nos despediríamos
como quem - uma vez na vida
desejou e amou
toda a humanidade
muito e completamente
em sua plenitude
*
líria porto
líria porto
parcos recursos imensas perdas
porque os pobres lá nas trincheiras
recebem ventos e tempestades
enquanto os ricos - na retaguarda
são protegidos e são poupados
*
líria porto
líria porto
co'a roupa que vim ao mundo
vou te sonhar e vestir
:
frio não passarás
nem fome
nem sede
*
líria porto
meu amor é tão bonito
todo dia comemoro-o
dou-lhe um beijo em cada poro
antes da despedida
*
líria porto
refresca-me o seu hálito
meus braços o agasalham
nunca mais sentimos frio
nem calor insuportável
vestimos a mesma pele
bebemos da mesma água
o amor se fortalece
e agora ele se espalha
*
líria porto
entre enterro e cremação
não me decidi ainda
nem vou fazê-lo
(melhor ir pela areia
na corcova
de um camelo)
*
líria porto
debaixo do chapéu
dona madama
em cima do chapéu
a bota do gangster
:
é muito topete
*
líria porto
(acho-o o mais bonito
engraçado charmoso alegre
gostoso
ainda mais quando ri)
[só não quero que saiba
(pra não ficar convencido)
as moças de lá da vila
por ele arrastam asas
e o colocariam
num altar]
(eu não
eu o levo pra cama)
*
líria porto
inevitável o desgaste
o massacre da rotina
o distanciamento
:
bom dia meu amor
boa noite - como foi teu dia?
*
chris herrmann e líria porto
revestiu-se
de plumas e sonhos
naquele inverno longo
com lágrimas secas
alinhou-se à neve
dos cabelos e lembranças
alegrias tristeza
flores despetaladas
forraram-lhe o chão
guardara as sementes
sabia o perfume a cor
os espinhos
podia dormir
*