meu avô grandalhão
imenso em tudo – imerso
em bondade e riso
nas lembranças do líbano
no amor aos filhos e netos
na birra pelos gringos
pelos ricos
pelo capitalismo
meu avô grandalhão
incapaz de ralhar com menino
ele próprio um menino gigante
de fora para dentro
esbarro em cada costela
perfuro o coração –– ele esguicha
faço o mesmo com o pulmão
fúuuuuuuuuuuuuuuuu
:
e eu de pé
(mais morta que viva)
quando eu ficar calada
louvem-nas
levem-nas à sua causa
espalhem-nas pelos canteiros
ruas praças e jardins
semeiem-nas
:
não deixem que as palavras
morram
só falo aquilo que penso
não sei mentir bajular
vivo enfiado em meu canto
não vou ao bar à igreja
e quando alguém se aproxima
fico encolhido –– sou tímido
eu gosto mesmo é de livro
e conto amigos
nos dedos
o livro da sua lavra
tanta beleza incontida
já me levaram às lágrimas
de tristeza de alegria
a poesia nas páginas
a magia das palavras
tudo me toca
o espírito
de areia argila ou lama
seja lá do que te chamem
no plural no singular
agora és pó e o vento
ao te soprar para dentro
dos teus poemas
dos versos
entenderá que a vida
é tudo isso
e é pouca
:
quase igual uma lagarta
que cria asas
e voa
meio aos morros desce um rio
tão igual fio de prata
pelo verde uns pontos brancos
a moverem-se sobre o pasto
mais abaixo uma casinha
uma chaminé - fumaça
e por certo outra maria
a preparar as marmitas
a socar o arroz em casca