líria porto
*
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
espigas
líria porto
bonecas do milho roliças
como as moças de cabelos castanhos
anunciam que estão prontas
*
bonecas do milho roliças
como as moças de cabelos castanhos
anunciam que estão prontas
*
sábado, 26 de novembro de 2011
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
(publicado no livro garimpo - editora lê) - lagarta
líria porto
andei retas sem desvio
fui por trilhas paralelas
amarelo o meu destino
não achava o que queria
dei a volta fiz a curva
varei vales e montanhas
encontrei o arco-íris
))criei asas impossíveis((
*
andei retas sem desvio
fui por trilhas paralelas
amarelo o meu destino
não achava o que queria
dei a volta fiz a curva
varei vales e montanhas
encontrei o arco-íris
))criei asas impossíveis((
*
o banquete
líria porto
a vida passa –– vou dentro
enquanto nela eu couber
um dia para eu apeio
volto pra terra e sem jeito
serei comida por vermes
(tu também)
*
a vida passa –– vou dentro
enquanto nela eu couber
um dia para eu apeio
volto pra terra e sem jeito
serei comida por vermes
(tu também)
*
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
purificação
líria porto
o cheiro do teu corpo
tua pele em minha pele
o suor a atravessar os poros
a lavar nossas almas
a limpar-nos os pecados
*
o cheiro do teu corpo
tua pele em minha pele
o suor a atravessar os poros
a lavar nossas almas
a limpar-nos os pecados
*
terça-feira, 22 de novembro de 2011
olho no olho
líria porto
se é tua intenção mandar flores fá-lo já
ou não poderei descartá-las pessoalmente
quando estiverem velhas
(há quem só mande coroas)
*
se é tua intenção mandar flores fá-lo já
ou não poderei descartá-las pessoalmente
quando estiverem velhas
(há quem só mande coroas)
*
porcelana
líria porto
as pernocas da boneca
sapatos brancos e meias
lá vai ela toda prosa
pelas ruas de azulejo
eu sem hora pra folguedos
quis tocar os seus cabelos
quis brincar trazê-la ao colo
sua dona foi-se embora
disse a ela que sou feia
*
as pernocas da boneca
sapatos brancos e meias
lá vai ela toda prosa
pelas ruas de azulejo
eu sem hora pra folguedos
quis tocar os seus cabelos
quis brincar trazê-la ao colo
sua dona foi-se embora
disse a ela que sou feia
*
(para o livro sem pecado não tem salvação) a poesia
líria porto
insinua-se depois some
não sei onde nem por quê
quem me mata é esta fulana
que se esfrega num e noutro
e oferece suas tetas
a qualquer morto de fome
mas a mim jamais se entrega
nem que eu sofra
ou rasteje
*
insinua-se depois some
não sei onde nem por quê
quem me mata é esta fulana
que se esfrega num e noutro
e oferece suas tetas
a qualquer morto de fome
mas a mim jamais se entrega
nem que eu sofra
ou rasteje
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011
na mosca
líria porto
bem pesadas bem medidas
as palavras que lhe disse
não surtiram efeito
:
à puta que o pariu
foi tiro e queda
*
bem pesadas bem medidas
as palavras que lhe disse
não surtiram efeito
:
à puta que o pariu
foi tiro e queda
*
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
ao hospício
líria porto
ela é louca louca louca
não coordena mais nada
ainda escreve com pena
arranca as penas da asa
só bebe água da chuva
e dos seus olhos de louca
correm soltas enxurradas
nas noites de lua cheia
pendura-se aos parapeitos
estufa o peito e sonha
só falta um dia essa louca
jogar-se com suas penas
não restar nenhuma asa
nenhuma louca
que pena
*
ela é louca louca louca
não coordena mais nada
ainda escreve com pena
arranca as penas da asa
só bebe água da chuva
e dos seus olhos de louca
correm soltas enxurradas
nas noites de lua cheia
pendura-se aos parapeitos
estufa o peito e sonha
só falta um dia essa louca
jogar-se com suas penas
não restar nenhuma asa
nenhuma louca
que pena
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(publicado no livro olho nu - ed. patuá) carimbado
líria porto
o meu amor adotivo
aquele que aconteceu
entrou como quem não quer
ficou como quem não é
legitimou-se sem sê-lo
*
o meu amor adotivo
aquele que aconteceu
entrou como quem não quer
ficou como quem não é
legitimou-se sem sê-lo
*
o cabaço
líria porto
penso assim aos borbotões
estou cheia de senões
se fossem abotoados
os pingolins dos meninos
ia ser um desatino
desarrolhá-los
acho mesmo –– houve engano
nas meninas muito pano
os rapazes sem cortina
triste foi a nossa sina
um selo de validade
desde a mais tenra idade
*
penso assim aos borbotões
estou cheia de senões
se fossem abotoados
os pingolins dos meninos
ia ser um desatino
desarrolhá-los
acho mesmo –– houve engano
nas meninas muito pano
os rapazes sem cortina
triste foi a nossa sina
um selo de validade
desde a mais tenra idade
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arremate
líria porto
ao apagar das luzes cerrem-me os olhos
levem-me à tumba para sossegar
não deixem meu corpo a pairar insólito
como a folha seca que ao vento jaz
*
ao apagar das luzes cerrem-me os olhos
levem-me à tumba para sossegar
não deixem meu corpo a pairar insólito
como a folha seca que ao vento jaz
*
(publicado no livro garimpo - editora lê) - infâmia
líria porto
o rio nasce espontâneo
brota do ventre da terra
rasga seu leito estreito
escorre por entre as pedras
ganha corpo correnteza
leva cardumes inteiros
atravessa as florestas
as campinas as veredas
o rio recolhe às margens
o canto das lavadeiras
a alegria dos pássaros
o corpo d’algum menino
anzóis canoas as redes
o riso das cachoeiras
sua vida peregrina
até se jogar ao mar
há homens pensam-se deuses
violam as águas do rio
roubam-lhe as riquezas
desviam-no da sua trilha
transformam-no em brejo seco
*
o rio nasce espontâneo
brota do ventre da terra
rasga seu leito estreito
escorre por entre as pedras
ganha corpo correnteza
leva cardumes inteiros
atravessa as florestas
as campinas as veredas
o rio recolhe às margens
o canto das lavadeiras
a alegria dos pássaros
o corpo d’algum menino
anzóis canoas as redes
o riso das cachoeiras
sua vida peregrina
até se jogar ao mar
há homens pensam-se deuses
violam as águas do rio
roubam-lhe as riquezas
desviam-no da sua trilha
transformam-no em brejo seco
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neblina (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)
líria porto
passageiros como as nuvens
deixem-nos chover
trovejar mudar de forma
derreter ante o azul
evaporar
viver é névoa
*
passageiros como as nuvens
deixem-nos chover
trovejar mudar de forma
derreter ante o azul
evaporar
viver é névoa
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(publicado no livro asa de passarinho - ed. lê) - toalha de bico
líria porto
muitas centenas de galos
tricotam as madrugadas
milhares de andorinhas
costuram o amanhecer
e são tantos passarinhos
a tecerem as tardes
também eu quero ter asas
para pontilhar estrelas
*
muitas centenas de galos
tricotam as madrugadas
milhares de andorinhas
costuram o amanhecer
e são tantos passarinhos
a tecerem as tardes
também eu quero ter asas
para pontilhar estrelas
*
dissidência
líria porto
a alma vai à frente
o cansaço da carcaça predomina
o corpo pede calma
a alma ardência
(viver é di_vagar)
*
a alma vai à frente
o cansaço da carcaça predomina
o corpo pede calma
a alma ardência
(viver é di_vagar)
*
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - querelas
líria porto
a lua entrou pela frente
o sol saiu pelos fundos
(desde que o mundo é mundo
o sol e a lua brincam de gato
e rato)
*
a lua entrou pela frente
o sol saiu pelos fundos
(desde que o mundo é mundo
o sol e a lua brincam de gato
e rato)
*
frustração
líria porto
fui ver a lua surgir
mas ela veio com truques
primeiro envolta num xale
depois de óculos escuros
mas eu quero a lua nua
sem roupas e sem disfarce
*
fui ver a lua surgir
mas ela veio com truques
primeiro envolta num xale
depois de óculos escuros
mas eu quero a lua nua
sem roupas e sem disfarce
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estrada de terra
líria porto
morres de saudades minhas
então caminha –– pega a estrada e vem
a distância a nos separar é a mesma
e eu garanto que irei onde estejas
sempre que a tua falta for maior
que o ar
morres de saudades minhas
então caminha –– pega a estrada e vem
a distância a nos separar é a mesma
e eu garanto que irei onde estejas
sempre que a tua falta for maior
que o ar
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quinta-feira, 10 de novembro de 2011
invasão
líria porto
gente indiscreta
cheia de perguntas
quer saber só por saber
apenas para ter assunto
o que há em nossas gavetas
a quem mais interessa?
gente indiscreta
cheia de perguntas
quer saber só por saber
apenas para ter assunto
o que há em nossas gavetas
a quem mais interessa?
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011
busca
líria porto
a neblina engoliu minha rua
fiquei invisível perdida de mim
se alguém me encontrar telefone-me
mande-me carta ou bilhete
que vou me buscar
:
levo a coleira
a neblina engoliu minha rua
fiquei invisível perdida de mim
se alguém me encontrar telefone-me
mande-me carta ou bilhete
que vou me buscar
:
levo a coleira
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