folhas da mesma árvore
gotas da mesma chuva
dedos da mesma mão
uvas do mesmo cacho
farinha do mesmo saco
vinho da mesma safra
pétalas da mesma flor
espinhos da mesma rosa
letras da mesma palavra
penas da mesma asa
frutos do mesmo amor
tu ele eu
nós
dentre as tralhas cobertas de pó
o entulho
as teias de aranha
o ranço dos avós dos pais e de nós
(agora na linha de frente)
a pesarem sobre os ombros
dos descendentes
ele santo ela perdida um encontro memorável que de tanto desacerto acertaram-se e a vida aparou os exageros e os filhos que nasceram foram todos razoáveis
a nossa casa maciça
resistiu às intempéries
manteve as paredes íntegras
não estalou as vidraças
só a tinta se desfez
tal como a pele que trinca
quando passamos a vida
debaixo de sol e enxada