maricota não me beija
peço / imploro e ela nada
e também não me abraça
maricota desalmada
sabe o muito que lhe quero
só por isso me despreza
pelo tanto que rastejo
porque tenho
olhos d'água
lambeu-a de ponta a ponta fez de conta que ela era sua mulher e quando lhe apresentou a conta surpreendeu-se com a resposta : pago – pago sim com o maior prazer
muita vez nublada
em vésperas de chuva
amua-se num canto
a esperar que as lágrimas
lavem-lhe a tristeza
expurguem-lhe a culpa
por viver num mundo
cruel e injusto
e nada fazer
palavras me chamam
depois me beliscam
insistem insistem
resisto reviro-me
porém sem sossego
as mesmas palavras
me arrancam da cama
:
então lavo a cara
mas elas se escondem
só por vingança
eu não sou ingrata nem sou egoísta deste-me tua nata e a mim me importa que não te exponhas em rio de piranhas faze o que gostas com quem quer que seja entre quatro paredes e em segurança
perdeste a alma rasguei o teu texto não usei pretexto atirei-o à vala poema que prezo além da palavra precisa emoção – algo tão bonito quanto o riso a lágrima e o sentimento
chorava por dentro
um quase choro invisível
de olho a chuviscar
a dilacerar a carne
a instalar-se nas tripas
e chorava a dor dos sonhos
do desmoronamento
inventas tantas tramoias
e sempre que acontece
eu caio nas armadilhas
e mais pareço uma ilha
cercada de incertezas
a imaginar saídas
que se derretem
igual gelo
qual um pássaro solitário
a voar em pleno espaço
assim se sente no mundo
a desfazer-se dos laços
a soltar pena por pena
em pouco livra a carcaça
e prossegue só espírito