domingo, 28 de fevereiro de 2010

feriadão

líria porto

abriu e fechou o portão
varreu a porta da casa
pôs água na geladeira
deixou a louça lavada

: o moço nada

deu voltas no quarteirão
contou as folhas das árvores
os ninhos dos passarinhos
os buracos na calçada

: o moço nada

gastou sola de sapato
furou as meias que tinha
sentiu fome dor cansaço
quebrou pratos na cozinha

: o moço nada

bateu papo com carteiro
comeu feijão com farinha
tomou banho passou cheiro
vestiu roupa de domingo

: o moço nada

( a sua espera era rasa
larga e funda é a piscina )

*

esquece-me

líria porto

desata minhas palavras
desatarraxa-as dos versos
tira delas o sotaque
os ranços todos da terra
deixa-as como nasceram
gravadas em dicionário
e jamais fales com elas

não passam do que disseste
um amontoados de letras
sem coerência
                    sem nexo

*

beata

líria porto

acho que nem te lembras
para anelar os cabelos
a moça daqueles tempos
tinha lá os seus fricotes
amarrava papelotes
enrolados com o dedo

depois soltava as madeixas
e bonita como são joão
ia rezar na igreja

(fazia sucesso com os santos)

*

chico

líria porto

sangra todo mês
quando para é gravidez
ou idade avançada

*

sábado, 27 de fevereiro de 2010

malu pordioli

líria porto

uma flor pequena
um botão de rosa
uma boniteza
uma formosura
a encher os olhos
da vovó coruja
cuja garatuja
cuja rima suja
é amor em bloco
é amor em floco
é amor insólito
é amor

e só

*

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

(publicado no livro asa de passarinho - ed. lê) - inocente

líria porto

o prego sem ponta fincado no muro
segura a gaiola do pobre canário

que canta coitado assim solitário
as asas que nunca feriram o azul

*

(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - delírio

líria porto

a minha alma gêmea ela mora em marte
e vagueia solta por entre as estrelas
se há tempestade ou um pé de vento
vem ela dormir em meu travesseiro

a minha alma gêmea dança tão bonito
quando é lua cheia sou eu quem vai lá
rodopiamos doidos pela via láctea
às vezes perdemo-nos pelo infinito

nas noites escuras deixo a porta aberta
a minha alma gêmea vem aqui me ver
leva-me consigo voo em sua nave
só a minha casca fica presa à terra

a minha alma gêmea fez-me prometer
quando ela puder quando eu precisar
vai me transportar carregar meu corpo
vou morar em marte de uma vez por todas

acaso ouças risos ou vozes alegres
barulho de guizo ou de cachoeira
é minha alma gêmea a brincar comigo
a contar-me histórias sobre a lua cheia

então eu te peço –– não chores
abre a janela

*

das rugas e cabelos gris

líria porto

viver é um jogo de esconde-esconde
e depende do valor que se atribui
às coisas desimportantes

*

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

simplesmente

líria porto

ando do meu modo vivo do meu jeito
e não me incomodo com o olhar alheio
:
feio é ser infeliz

*

perdida

líria porto

por aí os sapatos os brincos
os anéis a pulseira a saia a blusa a calcinha a cabeça
o cabaço o útero

(consigo
a nudez)

*

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

ao molho pardo

líria porto

cozidas em sangue
temperadas com cebola e alho
mastigo-as pelo menos trinta vezes

mais espessas que a saliva
bem melhores que os sermões do padre
ficam mais palatáveis

(houve um tempo de palavras indigestas)

*

sofismas

líria porto

a tua verdade
diferente da minha
é mentira deslavada
para a gente da rua

a minha verdade
diferente das outras
é mesmo falsidade
em boca de lobo

a verdade da mídia
diferente da nossa
é sensacionalista
é insidiosa

enfim e em resumo
presumo – a verdade
se é que ela existe
não tem propriedade

ou é hipócrita

*

banho

líria porto

o morno a espuma o cheiro
circundaram-me o corpo
tais como as conchas resguardam
as pérolas

a água entre as pernas
estava alegre

*

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

olhos d'água

líria porto

hora dessas
abro as comportas do açude
e inundo o mundo de lágrimas

*

acres e ocres

líria porto

emoções ficam guardadas
rancores ódios e mágoas

a raiva insiste persiste
represada inesgotável

*

o segundo filho

líria porto

fora do foco dos olhares
embora necessitado de cuidados
faz o que se lhe dá na telha

voa além dos muros

*

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

dos dois lados da avenida

líria porto

mariposas e borboletas
para voos horizontais
a preços convidativos

lobos solitários - predadores
ou cobaias?

*

domingo, 21 de fevereiro de 2010

timidez

líra porto

entre mim e o mundo
uma cortina

se ela se abre
sinto-me nua

*

lucubrações

líria porto

ser apenas pensamento
a vencer distâncias obstáculos

zanzar pelo mundo
sem arredar
o pé

*

uvas verdes

líria porto

tua ausência
tem assunto
como eu

não estou sozinha

*

sábado, 20 de fevereiro de 2010

lapidação

líria porto

retirar dos versos letras palavras
vírgulas reticências

quando só lhes restar a linha do horizonte
amarrar o poema como arraia e deixá-lo
ao vento

*

entrega

líria porto

mil línguas lambiam-me as pernas
o mar ia e vinha entrava saía
sugava-me

eu branca molhada
bebia-lhe a espuma

*

o mar

líria porto

o corpo não para
vai e volta vai e volta vai e volta
guarda a história das viagens dos naufrágios
das fragatas dos piratas das sereias
joga-se sobre a areia sobre os rochedos
sem se enraizar

*

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

asas

líria porto

poeta não morre - finge
fica vivinho da silva
veste-se de passarinho
e põe-se a cantar

*

trâmites

líria porto

com quantos desvios
se faz uma curva

com quantas mentiras
se formam as dúvidas

com quantas verdades
sobrevivemos?

*

em silêncio

líria porto

não sumi - sou a sombra que te segue
forra os buracos retira os espinhos as pedras
sou quem alisa teu chão

*

não chores meu bem

líria porto

dói-me a tua dor - me dilacera
segura minha mão

quisera ter o bálsamo algum remédio
deita-te em meu colo aquieta-te
espera o sol

as noites são breves

*

miss

líria porto

borboleta abre as asas - exibe as cores
disputa com a flor o olhar dos deuses

*

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

passas

líria porto

o coração quando seca
deixa vestígios no entorno

a pele se empalidece
perde-se o viço o vigor

nossas palavras encrespam-se
os olhos se desvanecem

o destino se esfarela
o amor vive de ontens

*

as botinas

líria porto

mamãe não admitia
menino descalço
mandava fazer botinas
com seis botões laterais
e casas apertadíssimas
num sapateiro
o seu di

(des)usá-las todo dia
demandava ferramenta
um metal de ponta curva
qual agulha de crochê

(tortura que ainda carrego
até hoje piso prego)

*

relâmpagos (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)

líria porto

para espantar o medo
mamãe queimava fragmentos de folhas de coqueiro
bentos na missa de ramos

sobreviventes do dilúvio
en_cantos da cozinha
                                   dávamos gargalhadas

*

no quintal

líria porto

a folhagem verde e rosa
mangueira de roupa nova
desfila com elegância

*

(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - contabilidade

líria porto

vovó viu mais de mil luas
meu pai umas novecentas

minha irmã só a metade
mamãe já não conta as suas

eu passo de setecentas
mas não tenho previsão

e as luas que eu não vir
os meus netos cantarão

*

animação

líria porto

é maraca ou castanhola o que toca a persiana
quando o vento venta e bole
em suas lâminas?

*

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

sem-vergonha

líria porto

pensa-se planeja-se
calcula-se
põe o coração tudo a perder
:
procura por quem não deve
ama quem não lhe convém
padece o desgraçado
e nem bem se cura
repete todas as loucuras
todas as excrescências

*

(publicado no livro olho nu - ed. patuá) rebanho

líria porto

há almas
que marcam nosso corpo
com ferro e fogo

há corpos
que fincam em nossa alma
a eternidade

*

as_salto

líria porto

meu estro virou farinha
sou caçador de arma em punho
no sequestro da palavra que definha

*

inesquecível

líria porto

dure-me o tempo da memória
o saber dos fatos recordar quem fomos
quero relembrar cada detalhe
cada pedacinho à nossa sombra

*

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

arruma a rima

líria porto

eu era muito pequena
sofri sentença de morte
escapei de mim ilesa
assim começa a história

o sangue tinto da uva
nestas noites de seresta
traz a lua diamantina
às horas nossas de tédio

as pedras da vida estreitam
os caminhos do destino
saudades furam-me os olhos
tempos duros – de ostracismo

as folhas todas da árvore
ficaram da cor da palha
onde foi parar o verde
está em greve ou de férias?

a caixa d'água do céu
derramou noite inteirinha
respingou no meu ouvido
um batuque repetido

no chão rolou minha rima
quebrou verso na calçada
ô bicho besta é poeta
faz poesia do nada

*

(publicado no livro garimpo - editora lê) - raso

líria porto

poeta de letras minúsculas
sem rama remo rima rumo
roma londres paris
louvre lavra
livro

(sábio é o sabiá
que canta e voa
sem mensurar as asas
a voz
a imensidão)

*

projeções

líria porto

nunca é o tempo definitivo
põe-se ferro cimento pedra sobre as possibilidades
as brechas se fecham inexoráveis

sempre é o tempo infinito repleto de certezas
haja sol vento chuva frio calor sereno
mantém-se intocável o compromisso

talvez é o tempo maleável
a medida do possível –– pode ser pode não ser
quem sabe?

*

gatunos

líria porto

alguns agem no escuro
roubam caixas eletrônicos
outros à luz do dia assaltam
o erário público

*

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

no carnaval

líria porto

transito de arlequim –– triste / sorridente
a máscara do amor tem a cor
da véspera

*

divagar

líria porto

entrego-me por certo
unhas azuis cabelos furta-cor
ofereço-me reclamo-te
dir-me-ás
o carnaval já passou
desfilas versos lerdos
sequer engatinhas boas rimas
dir-te-ei
mesmo em cinzas
engatilho amor

*

para inglês ler

líria porto

no começo
ao menos trinta vezes por mês
depois rareamos
chegamos a uma por ano
e temos amantes

dormimos na mesma cama
mantemos sérios diálogos
não nos falta assunto
vamos a teatros restaurantes
amigos nos admiram
e assim prosseguimos
até que a morte nos junte

*

domingo, 14 de fevereiro de 2010

em tinta acrílica

líria porto

(escorrer do peito
brotar das entranhas
um riacho um leito
todas as montanhas)

caminhar a estrada
percorrer o trilho
com os pés em sangue
misturar nas pedras
luar e martírio

(ter o dom das flores
pelas suas cores
e sugar da terra
o que ela encerra)

tocar as estrelas
extrair o brilho
e com ferro e fogo
produzir minério
areia do rio

(desse parto a fórceps
beber poesia
e num gesto breve
dar-se à luz)

*

frenagem

líria porto

com o tempo
encurtamos
os passos
:
pressa para quê
se no fim da estrada
a terra nos espera
com sua bocarra

*

sábado, 13 de fevereiro de 2010

enchente

líria porto

houve tempo de chover amor
e períodos longos de estiagem

de repente o temporal
relâmpagos raios trovões
:
perdemo-nos um do outro

*

a formiga

líria porto

seu estado é deplorável
é provável que se mate
que arremate a vida
numa roda de açúcar
e formicida

*

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ao homem do coração de pedra

líria porto

ser_tão arenoso – resisti ao desamor
sou mandacaru capaz de florir
de forrar a sede e a fome

*

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

para embalar o sono

líria porto

a chuva fininha caiu noite inteira
molhou o telhado desceu pelas calhas
cantava a toada das águas bem-vindas
uma vez eu ouvia outra vez cochilava
e a chuva chovia chovia
enxurrava-me

*

lar doce largo

líria porto

casa boa é aquela que espera teu corpo
com braços abertos macios e cômodos

*

de (não) saber

líria porto

nem tudo que reluz sou eu
dizia o sol con_vencido

a lua ria no céu
conhece bem as estrelas

*

simplesmente

líria porto

devagar ia seu corpo
de vagar a sua alma
vovó não fazia esforço
de existir se (a)bastava

*

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

ousadia

líria porto

já outono quase inverno
cravo-te olhares fixos
:
rosas-te ensimesmado
ante a petulância

*

versos periféricos

líria porto

quem tinha cama quentinha
devia ter me chamado
eu levava u'a marmita
uma colher e um garfo
fazia-lhe cafuné
e também gato
e sapato

o céu é perto
é lua nua qualquer
a dormir do nosso lado
um sorriso de moleque
um barraco uma coberta
um aperto nas costelas
um meu amor venha cá
não me deixe nesse inverno
um vou embora
não vá

*

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

overdose

líria porto

acharam balas perdidas
no corpo do diabético
de morango bem se diga
ele morreu por excesso

*

imãs

líria porto

a lua o sol
um contra-senso
tolos nós dois
nós nos perdemos

a hera verde
lá no telhado
parece abraço
de namorado

chega de manso
recobre o topo
agora é tudo
o tempo todo

a vida passa
as horas voam
és tu o rio
sou a canoa

(nem cá embaixo
nem lá em cima
fica no peito
a nossa rima)

*

registro - um poema pra roberto lima

líria porto

rodei qual barata tonta
para achar o tal destino
porém ao entrar no ninho
tinha tanto passarinho
canto lindo interessante
pé-de-porco recheado
cachaça de pedra azul
papo bom prosa afiada
que a ida no dona clara
um lugar de luz e estrelas
na verdade um céu aberto
era mesmo o paraíso

amigos são anjos
(de chifre e rabo não importa)
(re)conhecem as nossas trilhas
nossas janelas e portas

*

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

cobra d'água

líria porto

serpenteia 
corta o vale
despenca na ladeira
repousa sobre as pedras
deságua

*

necessidades

líria porto

as carências obtusas
inconscientes extremadas

produzem estragos fissuras
atos invertebrados

transformam-nos em moluscos
minúsculos cabisbaixos

a contentar-nos com tudo
esmolas ciscos migalhas

fingimentos olhares dúbios
desprezos lixo

andrajos

*

imitação

líria porto

deuses dependuram estrelas lá no céu
poetas garatujam a lua
                                      no papel

*

domingo, 7 de fevereiro de 2010

a comadre de minha mãe

líria porto

a lua decretou – é minha
e virou madrinha

eu sorria
ela me aluava

eu chorava
ela me aluía

eu sentia
ela me alava

enluarar
é destino

*

dos poetas - esses seres dúbios

líria porto

tão imensos
tão sem cabimento
amores (im)possíveis
passíveis de (uni)versos

*

sábado, 6 de fevereiro de 2010

(publicado no livro garimpo - editora lê) - indiferença

líria porto

eu contei ao vento
o quanto sofria
ele prosseguiu
não voltou atrás
não soprou ameno
 nem olhou ao menos
a minha ferida

o erro foi meu
escolhi o vento
para meu amigo
ele corre sempre
ele passa rápido
nunca fala nada
nem sabe que existo

*

restaurador de ossos

líria porto

o corredor quem dá conta
de quase todos os passos
refaz-nos o inventário
anota-nos ano a ano
:
já nos viu de todo jeito
sonhadores esperançosos
tristonhos ou solitários
conheceu-nos bem mais jovens
saindo para o trabalho
no retorno de um passeio
de volta ao nosso íntimo
ao frio do nosso eu

(o seu olhar
agasalha-nos)

*

rapto II

líria porto

dali babá
de onde ficava o bebê
vi sus_peitos

*

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

pedregulho

líria porto

deito-me em teu leito
afundo-me nos teus braços
rio-me

(transbordam-me
os lençóis d'água)

*

distanciameno

líria porto

meu amor jamais se solta
do cinto de segurança

seu abraço não dá voltas
e nem me fitam
                 os seus olhos

*

não ia dar certo

líria porto

o sol dorme cedo
acorda de madrugada

a lua vara a noite

*

das dores e sofrimentos

líria porto

por vezes a morte
é mais generosa
que a vítima

*

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

longe é perto

líria porto

estradas sinuosas curvas
reservam-nos supresas
       umas perigosas
       outras de beleza absoluta

*

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

tombo

líria porto

tropeçou na vida cedo
entornou a sua taça
então bebeu no gargalo
a cachaça de primeira
de segunda de terceira
sorveu álcool gasolina
bagaceira calibrina
consumiu-se e por fim
a dose letal

*

flora de angola

líria porto

amou alguém
que só amava a si mesmo
vagava qual folha seca
perdeu o viço de árvore

o vento
alcoviteiro de praxe
levou-a pra outros braços
floriu buquês de acácias

*

rapto I

líria porto

ali babá
onde deixaste o bebê
há trinta e nove ladrões
e um inocente

*

pendurados por um frio

líria porto

ficamos velhos
e isso não é sorte
nem azar

como pêndulos
nossos corpos é que marcam
nosso tempo

c'est la vie

*

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

o amante

líria porto

saía da concha
áspera por fora
por dentro uma seda
lembrava-se dele
daquele sem-vergonha

ele vinha
brincava com ela
de frente de costas
deixava nas fronhas
a pressa o riso
a promessa

retornava
para onde lhe lavavam
as cuecas

*

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

o perfeccionista

líria porto

caminha atrás de si mesmo
para ver se anda direito
se não entorta a coluna
se está despenteado
bem aparada sua nuca
se lhe resta algum cisco
alguma caspa no ombro
alguma cisma

depois se olha de frente
ajeita ou troca a gravata
lustra os óculos outra vez
verifica o que há na pasta
nos bolsos do paletó
passa um pano nos sapatos
volta ao espelho penteia-se
e sai desconfiado

*

meu templo

líria porto

no sopé todos os homens no topo todos os sonhos
em ti –– montanha –– o amor e o ódio a coragem e o medo
o tempo a sabedoria

entregas-te ao brilho das estrelas
ao beijo da lua ao canto dos pássaros à súplica do pecador
resistes ao vento às tempestades ao sol escaldante

fascinam-me o teu manto verde as tuas rochas
a tua pétrea paciência

caminho de um lado a outro
e busco a força que me falta

prostro-me a teus pés penitencio-me rezo
choro de saudade

*

dedicatória

nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio

(líria porto)



*















quem tem pena de passarinho
é passarinho

(líria porto)

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