sábado, 26 de janeiro de 2008

maridão

líria porto

meu amor nada me nega
e faz tudo que lhe peço

ontem fomos às compras

reclamou do peso
mas trouxe todas as sacolas
e pagou as contas

*

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

sinal de fumaça

líria porto

algumas gotas e a sede se abranda
quebra-se a secura das ausências
não precisa ser carta ou telegrama
envia-me uma letra e saberei
se ainda me amas

*

amor

líria porto

há de ser muito
quanto mais melhor
nunca é demais
ao menos

*

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

descalça

líria porto

dias meses anos
subi e desci a calçada
cresci por ali

depois fui embora
re_voltei pela rima
pobre de mim

*

domingo, 13 de janeiro de 2008

silêncios

líria porto

fugiu-me a poesia

(calaram-se as palavras
letras rimas
versos poemas
sons batidas
ruídos)

secou-me a tinta na ponta dos dedos

(restaram-me vãos
fossos talhos buracos
abismos)

procuro na palma da mão
a linha da vida  quanto tempo duraria?

(não há registro)

estou morto
vivo?

*

sábado, 12 de janeiro de 2008

riscos

líria porto

tão quanto nós desmedidos
extrapolamos extremos

expusemos nossas vidas
às tempestades aos ventos

e sem preparo sem tino
tal como malabaristas

bordeamos os perigos
os abismos as contendas

*

das relações

líria porto

exclamações interrogações reticências
que tal um ponto final?

*
esquecermo-nos de nós mesmos
é crime de lesa-pátria
*

por um tris_te

líria porto

meu coração meteoro
abraço beijo eu te adoro
és tão querido eu te imploro
cuida de ser feliz

não te preocupes - prossigo
acho abrigo por aqui

*

furto

líria porto

o que foi que houve
quem comeu meu pé de couve?

crisálida abaixa os olhos
quisera ser borboleta

*

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

esnobe

líria porto

vi a lua de perfil
narizinho arrebitado
a se fingir de difícil
a desdenhar os olhares
do planeta vermelho

noite dessas
marte perde a paciência
acaba com sua pose
morde-lhe a ponta da orelha
faz-lhe proposta indecente

*

bandeamento

líria porto

precisou penar padecer
prestar contas das ausências
das vezes que não se amou

partiu sem nada
sem palavras sem cortejo

desertou-se - fugiu
de si

*

engulho

líria porto

ingeri as reticências
as vírgulas todos pontos
difícil foi engolir as dúvidas
as perguntas

as aporrinhações

*

flâmulas

líria porto

no alto do mastro tremulam os fracassos
o medo da solidão os rastros do desamor
a insônia

*

ecologia

líria porto

atrair o peixe
         sem trair o mar

*

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

vão

líria porto

pelas montanhas de minas
pelos vales e valas de minas
pelas minas de minas
à cata do ouro de minas
da prata de minas
dos diamantes de minas
do ferro de minas
do minério esgotado de minas
voava o (g)avião

*

teimosia

líria porto

noves-fora não me interessam
não estou à prova

não tenho rabo preso
não tenho pressa
não sou exata
atalhos incomodam-me

se a morte bater-me à porta
sente-se e espere-me
ou volte outra hora

forçada
nem morta

*

natureza

líria porto

quando o ipê floriu
só pude dizer
puta que o pariu
filho da mãe

*

bodum

líria porto

ranço no sovaco
arrogante
ofendia os fracos
bajulava os grandes

alma rastejante
jeito puxa-saco
catinga de inhaca
dava nojo

*

blecaute

líria porto

a solidão da lua
perdida entre vidrilhos

*

cacos

líria porto

as asas
cedilhas
pendurei-as
no cabide

foi-se sonho
martelo-me

(tudo ali belo)

*

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

bom-humor

líria porto

os tios da minha amiga
salgado (c)amargo aze(ve)do
demarcaram minha vida
deixaram-na com algum tempero
ensinaram-me que a palavra
pode ter graça requebro
mesmo em conversa séria
assunto de parentesco

*

dedicatória

nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio

(líria porto)



*















quem tem pena de passarinho
é passarinho

(líria porto)

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