líria porto
olhos vagos passos trôpegos
dedos trêmulos
quis voltar atrás
estrada sem retorno
caminho percorrido
foz de rio
*
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
(publicado no livro olho nu - ed. patuá) filosofia
líria porto
frida foi à feira à fábrica à farmácia
enfrentou fila
fartou-se de feijão farofa frango frito
anfetamina fenilefrina fenilanina
frustrou-se
ficou frágil e infeliz
falei-lhe –– frida faz-me o favor
afrouxa a face flauteia flui
afirma-te
viver é outra coisa
*
frida foi à feira à fábrica à farmácia
enfrentou fila
fartou-se de feijão farofa frango frito
anfetamina fenilefrina fenilanina
frustrou-se
ficou frágil e infeliz
falei-lhe –– frida faz-me o favor
afrouxa a face flauteia flui
afirma-te
viver é outra coisa
*
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
oxalá
líria porto
nuv'encorpada
igual uma barca
vagueia no ar
o bafo de fogo
mormaço quentura
quem atura?
ô mandachuva
manda brasa
manda água
água
á
g
u
a
*
nuv'encorpada
igual uma barca
vagueia no ar
o bafo de fogo
mormaço quentura
quem atura?
ô mandachuva
manda brasa
manda água
água
á
g
u
a
*
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
culpa
líria porto
aquela mulher miserável
a remexer o lixo
fez-me sentir vergonha
do nosso estilo
de vítima
*
aquela mulher miserável
a remexer o lixo
fez-me sentir vergonha
do nosso estilo
de vítima
*
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
escaravelho
líria porto
anda a vida por aqui a passos largos
não consigo alcançar as próprias pernas
em tempo tão curto paguei muito caro
finaram-se cinco sextos da minha espécie
*
anda a vida por aqui a passos largos
não consigo alcançar as próprias pernas
em tempo tão curto paguei muito caro
finaram-se cinco sextos da minha espécie
*
recesso
líria porto
comer dormir e sonhar
usar chinelo de pano
roupa larga leque de abano
rir da morte das desgraças
andar de cara lavada
deixar que a vida te faça
afagos de vez em quando
*
comer dormir e sonhar
usar chinelo de pano
roupa larga leque de abano
rir da morte das desgraças
andar de cara lavada
deixar que a vida te faça
afagos de vez em quando
*
sobrevivente
líria porto
levei um tiro
entrou no ouvido
foi por um triz
bebi veneno
agora quero
dropes de anis
eu sou não muito
um quase tanto
porém feliz
a missa é omissa
mas meu pecado
é só preguiça
chega domingo
voo ao mercado
pinga e linguiça
ao fim the end
au revoir c'est fini
(tanto faz dar na cabeça
quanto na cabeça dar)
*
levei um tiro
entrou no ouvido
foi por um triz
bebi veneno
agora quero
dropes de anis
eu sou não muito
um quase tanto
porém feliz
a missa é omissa
mas meu pecado
é só preguiça
chega domingo
voo ao mercado
pinga e linguiça
ao fim the end
au revoir c'est fini
(tanto faz dar na cabeça
quanto na cabeça dar)
*
contorno
líria porto
seus braços
a exata medida
do meu manequim
:
não sobra nem falta
um milímetro
*
seus braços
a exata medida
do meu manequim
:
não sobra nem falta
um milímetro
*
a poesia
líria porto
acaricio-a
ela finge me querer
mas dorme com uns
com outras
:
puta com cara
de santa
*
acaricio-a
ela finge me querer
mas dorme com uns
com outras
:
puta com cara
de santa
*
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - altar
líria porto
tal como o padre ergue a hóstia entre os dedos
o sol se levanta atrás da montanha
e consagra a manhã
*
tal como o padre ergue a hóstia entre os dedos
o sol se levanta atrás da montanha
e consagra a manhã
*
preocupação
líria porto
persigo um cisco preto
não sei se ponto ou se letra
fecho o olho ele aparece
abr'olho ele se esguelha
ninguém dorme sossegado
com a pulga atrás d'orelha
*
persigo um cisco preto
não sei se ponto ou se letra
fecho o olho ele aparece
abr'olho ele se esguelha
ninguém dorme sossegado
com a pulga atrás d'orelha
*
arrepio de morte
líria porto
afastou-se de mim
afastei-me dele
e aquela história de pele
foi para o espaço
sorte nefasta que afasta de nós
o prazer
*
afastou-se de mim
afastei-me dele
e aquela história de pele
foi para o espaço
sorte nefasta que afasta de nós
o prazer
*
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
divisão de tarefas
líria porto
amor
limpa por favor a geladeira
não me sobrou um queijinho
cerveja laranja pudim tomate
ou pedaço de pizza
*
amor
limpa por favor a geladeira
não me sobrou um queijinho
cerveja laranja pudim tomate
ou pedaço de pizza
*
domingo, 19 de outubro de 2008
viúva negra
líria porto
a aranha ruiva
contrasta com luto
combina com lágrima
atiça os marmanjos
remexe com_padre
*
a aranha ruiva
contrasta com luto
combina com lágrima
atiça os marmanjos
remexe com_padre
*
rede
líria porto
(versos para lui)
o corpo balança ao sabor do vento
apascento as tristezas as preocupações
durmo ao relento releio drummond
(o sonho passeia
na praia de santos)
*
(versos para lui)
o corpo balança ao sabor do vento
apascento as tristezas as preocupações
durmo ao relento releio drummond
(o sonho passeia
na praia de santos)
*
sábado, 18 de outubro de 2008
ai meu pai
líria porto
(para fátima queiroz)
na pedra
dentro da sua couraça
a dor mais antiga da terra
a dor de existir
no rio
a pedra deitada em seu leito
chora e soluça calada
é dor resistir
*
(para fátima queiroz)
na pedra
dentro da sua couraça
a dor mais antiga da terra
a dor de existir
no rio
a pedra deitada em seu leito
chora e soluça calada
é dor resistir
*
terça-feira, 14 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
(publicado no livro olho nu - ed. patuá) estupefata
líria porto
traíste-me partiste parti-me
puta que pariu fiquei tão triste
devia ter ficado indignada
*
traíste-me partiste parti-me
puta que pariu fiquei tão triste
devia ter ficado indignada
*
sábado, 11 de outubro de 2008
(peguei o sol no pulo) surto
líria porto
a mim não me importa
se o verso é curto se a rima é torta
se a morte furta o calor do corpo
o sangue o suor
prossigo absorto a tirar da aorta
o ardor a força e persigo a sorte
por sentir que a vida tem norte
e tem cor
a mim não me importa
se o verso é curto se a rima é torta
se a morte furta o calor do corpo
o sangue o suor
prossigo absorto a tirar da aorta
o ardor a força e persigo a sorte
por sentir que a vida tem norte
e tem cor
*
traição
líria porto
a ferida jorra
chaga aberta em minhas costas
suja o chão de vinho
bebo o sangue do barril
à pura que te pariu
*
a ferida jorra
chaga aberta em minhas costas
suja o chão de vinho
bebo o sangue do barril
à pura que te pariu
*
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
(peguei o sol no pulo) bisturi
líria porto
poeta
nau frágil
mar de emoção
navegar é preciosismo
escrever é precisão
*
poeta
nau frágil
mar de emoção
navegar é preciosismo
escrever é precisão
*
terça-feira, 7 de outubro de 2008
rouquidão
líria porto
se a pena emudecer
quero um bico um gorjeio um assobio
um rio pra rimar remar mudar de rumo
um amor roma romã
avessos e direitos
*
se a pena emudecer
quero um bico um gorjeio um assobio
um rio pra rimar remar mudar de rumo
um amor roma romã
avessos e direitos
*
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
fumaça
líria porto
queimou-se como vel(h)a
perdeu cera forma pavio
a c(h)ama ficou pouca
e agora
na penumbra
não deslumbra
nem son(h)a
fuma
*
queimou-se como vel(h)a
perdeu cera forma pavio
a c(h)ama ficou pouca
e agora
na penumbra
não deslumbra
nem son(h)a
fuma
*
domingo, 5 de outubro de 2008
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - botequim
líria porto
na quina da rua
a tonta da lua
fazia ponto
igual uma puta
naquela disputa
de homens
*
na quina da rua
a tonta da lua
fazia ponto
igual uma puta
naquela disputa
de homens
*
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(líria porto)
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