quinta-feira, 31 de março de 2011

silêncios

líria porto

nada nada nada
diz-me tudo
enquanto tudo tudo tudo
nada diz

*

encruzilhada

líria porto

preciso escolher um caminho
qual?

decidiram por mim tanto tempo
vivo confuso e a bússola
é pior que eu
             
*

quarta-feira, 30 de março de 2011

chove não molha

líria porto


em fogo brando eu aguento
não suporto é fritura

*

terça-feira, 29 de março de 2011

francisco

líria porto

freia na curva
derrapa no coração
acomoda-se em meu peito
um menino com nome
de grande homem

*

segunda-feira, 28 de março de 2011

nos salões

líria porto

madames beijam madames
nas faces – como as formigas
(e nem são amigas)

*

linhagem

líria porto

tataravós bisavós avós
meus pais também já se foram
minha hora se aproxima
:
e ficarão nesse mundo
quatro filhas os meus netos
e uma rima pequenina

*

sábado, 26 de março de 2011

comboio

líria porto

ficamos velhos
iguais idênticos
aos pais e avós

e assim seguimos
com nossa prole
atrás de nós

*

bruma

líria porto

o vento me empurra
de um lado pra outro

seguro num oco
num vácuo num vão

e voo sem bico
sem asa sem pena

igual nevoeiro
(eu me vou)

*

olhares

líria porto

as rosas da vizinhança
ultrapassam em altura
as grades da nossa casa

em nosso jardim pequeno
as margaridas as dálias
parecem desarranjadas

os passarinhos no entanto
voam dum lado e doutro
e não fazem distinção
:
flores são flores
em todo canto

*

quinta-feira, 24 de março de 2011

(publicado no livro olho nu - ed. patuá) de esguelha

líria porto

a porta range
e sua voz de taquara
denuncia a chegada
de quem por algum motivo
quis passar despercebido

um amante um larápio
um anjo de chifre e rabo
um espírito de porco
um filho desnaturado
um farsante um estrupício

um redemunho?

*

terça-feira, 22 de março de 2011

constrangimento

líria porto

mais que o peso das palavras o silêncio
a reprovação

*

segunda-feira, 21 de março de 2011

evas

líria porto

bisneta de alguma neta
tetravó da própria mãe
(mulheres sobre mulheres)
e a beleza se completa
em muitas encarnações
:
ancestrais
e descendentes

*

domingo, 20 de março de 2011

mire veja

líria porto

caçador di_verso atira e acerta
quem está prestes

*

quarta-feira, 16 de março de 2011

(publicado no livro garimpo - editora lê) - simplório

líria porto

quis versos rebuscados
repletos de filosofia e sapiência
belas metáforas palavras de boa cepa

mas nasci no cafundó sem eira nem beira
quando muito salpico purpurina
no rabo dos cometas

os olhos do poeta têm cílios de arco-íris
os meus são folha seca

*

terça-feira, 15 de março de 2011

tormenta

líria porto

o céu é só chumbo
e não tenho guarda-chuva

há tempo?
nada

*

segunda-feira, 14 de março de 2011

todo dia é dia de poesia - parabéns

líria porto

nas asas da borboleta
no bico do passarinho
na bica dágua

no bolo de aniversário
da roberta silva

*

gostaria

líria porto

de não entender o que está por trás
de não ir atrás do que possa ser
de não ter radar de não ter antena
de viver/morrer na inocência

*

sábado, 12 de março de 2011

poleiro

líria porto

eu acho que a corujice
não é defeito tão grave
se a coruja é uma ave
vovó pode ser coruja
ela tem um par de asas

*

recém-nascido

líria porto

pequeno indefeso e tão preso à vida
agarra-a com dedos fininhos
e ela não lhe escapa
:
está destinada ao menino

*

no bloquinho da coruja

líria porto

natos netos bonitos
anoto-os e anuncio-os
:
maria luiza e francisco

*

sexta-feira, 11 de março de 2011

dunas

líria porto

com o menino no regaço
estou nas mãos do menino
do seu perfume suave
dos olhares movediços

*

quinta-feira, 10 de março de 2011

esgrima

líria porto

não sou aquela que procuras
não sou santa nem sou serva
sou esta mulher incauta impura
e tenho esse vulcão no vão
das pernas

(declaro amor amor
                         mas faço guerra
:
touché)

*

quarta-feira, 9 de março de 2011

um prinspe

líria porto

igual um gatinho
no quente aconchego

chegou veio calmo
sem choro sem cisma

um cisco de gente
de nome francisco
:
e tem o meu gene

*

sábado, 5 de março de 2011

inês é morta

líria porto

para fugir de si mesma
fingir que está tudo bem
pendurou a (in)consciência no cabide
e vestiu
             pele de marta

*

sexta-feira, 4 de março de 2011

estalo

líria porto

relampeja
um trovão ronca ribomba
outro raio chicoteia-me
rasga-me o céu
aterra-me

*

cai não cai

líria porto

águas de verão
penduradas no varal
:
chuvas tardias

*

sacrifício

líria porto

em crise com a própria escrita
cobre-se com mantras e neblina
:
silencia-se

*

quarta-feira, 2 de março de 2011

almôndega

líria porto



carne triturada com pele
e osso

*

dedicatória

nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio

(líria porto)



*















quem tem pena de passarinho
é passarinho

(líria porto)

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