líria porto
um passo outro outro mais outros
até vencer as distâncias
(a esquerda persiste)
*
líria porto
cinco quartos - um para os pais
um para as três maiores
outro pras meninas pequenas
o do trio masculino
e o quarto de despejo
:
enfim acomodados
na praça getúlio vargas
os nove filhos do seu biloca
e seus badulaques
*
líria porto
mais que amores
tenho afeto desafetos
e pouco apego
gosto do coletivo
ando a pé e falo
sozinha
(sou minha
numa relação de conflito)
líria porto
no gelo no barro no vidro
nas pedras argila madeira
revejo projeto adivinho
humanas figuras
(
líria porto
a cada pessoa
uma morada no mundo
a vida na porta da frente
a morte na porta dos fundos
(poucas com muitas janelas
muitas sem janela alguma)
*
líria porto
a água rebate de encontro ao corpo
com alguma força afugenta o sono
empurra-o para o ralo
:
ficamos prontos pra lida
*
líria porto
com a ponta de uma faca
raspava manchas e névoas
(não sobrou nenhuma sarda)
começou a minar sangue
vieram as bactérias
instalaram-se as feridas
acordou apavorada
*
líria porto
se eu fosse uma boneca
queria ser da cecília
andar abraçada a ela
pra não me sentir sozinha
e quen ela fosse À escola
saísse pra passear
fosse à casa da vovó
eu iria na mochila
*
líria porto
nuns dias vinha
noutros telefonava
então se foi para sempre
deixou um vácuo - um vazio
que nenhum outro preenche
*
poema para roseane
nenhum cão cessará
a poesia que mora em ti
que inunda tuas palavras
faladas escritas
cantadas
( a esquerda também é mão)
*
reféns
não sei não sabes
nós não sabemos
em que momento
um cão um vírus
ou um tirano
farão o ataque
( a esquerda não é canhota)
*
à luta
a mão esquerda
antes restrita
recebe a rédeas
da minha escrita
e faz do verso
da poesia
a ferramenta
que necessito
(a esquerda não é canhota)
*