a felicidade cabe em duas sacolas de plástico (um pouco de arroz um quilo de feijão um de farinha carne moída ovos um punhado de jiló e o leite dos meninos)
no submundo da direita
acumulam-se ódios preconceitos
violência intolerância egoísmo
maldade ignorância
ambição
e um jeito de fazer política
que privilegia os ricos
e dá cobertura
a bandidos
foi moça muito bonita
as pernas eram colunas
as seios iguais colinas
os cabelos –– cachoeira
e seus olhos de topázio
cor das águas cristalinas
fecharam-se para sempre
:
violência masculina
tal como um dia ela veio a poesia se foi abandonou-me à deriva sem norte ou rumo sem rima à mercê de ideias fixas de só fazer ironia escrever versos por vício evitar morrer à míngua
quem sei de mim só eu dentro
desse corpo tão cansado
de lavar passar varrer
cozinhar cuidar da casa
e ter que abrir as pernas
para quem não me respeita
e me espanca e me trai
e ainda me ameaça
se eu disser qualquer palavra
ou mesmo contar pro padre