sábado, 31 de outubro de 2009

colar

líria porto

costuro meu canto
com outras medidas
sou eu das palavras
limadas antigas
pois tais como as pedras
se ficam pontudas
se têm muita aresta
eu digo não prestam
estão mal cosidas

as letras redondas
quais seixos no rio
são um desafio
um cordão de pérolas
meus dedos já gastos
às vezes coletam-nas
com as pontas das unhas
que tenho esmaltadas
na cor das petúnias

*

minas

líria porto

cheiros sabores aromas
queijos doces
suspiros
pães bolos biscoitos
amores pecados prazeres

(sodoma gomorra
e fogão de rabo
quente)

*

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

recesso

líria porto

recostado no horizonte o sol cochila
a_manhã dorme até tarde
a chuva cisma

*

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

zelo

líria porto

sobe numa galha noutra  olha as ramas curioso
parece que o passarinho quer um canto para o ninho
e todo cuidado é pouco

*

freguês

líria porto

abre-lhe os colchetes
puxa-lhe os elásticos
depois se comporta
como se estivesse
à mesa
:
saboreia-lhe a carne
repete a sobremesa
e adormece

antes de partir
bebe café e deixa
a gorjeta

*

terça-feira, 27 de outubro de 2009

fragilidade

líria porto

eu não sei que mágoa é essa
eu não tenho olhos d'água
isso é coisa de mulher
homem que é homem não chora
não se queixa não se dobra
homem que é homem aguenta

(não posso mais suportar)

sou um dique um aguaçal
o meu amor foi embora
não devo dar um gemido
há um mar de sofrimento
estampado no meu riso
pobre de mim ai de mim

(sou o cinismo em pessoa)

eu não sei que dor é essa
escorrega pela cara
atravessa fura o peito
sou um cabra de respeito
sou um homem muito macho
não me agacho não me curvo

(deus do céu quero é morrer)

*

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

rigidez

líria porto

algumas palavras secas
iguais bagaço de cana
tão somente são disfarce
de quem repete eu não amo
porém sofre chora sente
e tem todas as fraquezas
desta tola raça humana

*

mentirosas

líria porto

paixões prometem-se e se desfazem
às primeiras provações

*

desgarrados

líria porto

cobertas ralas
frio severo

escassas cartas
inferno

i n v e r n o

*

domingo, 25 de outubro de 2009

(des)equilíbrios

líria porto

paredes frias

(corredores não têm alma
no entanto me seguiam
conduziam-me aos lugares)

deixei a casa

(ampliei os meus ex-passos
corro paro rodopio
sem medo de dromedários)

tropeço em corcovas

*

sábado, 24 de outubro de 2009

faminta

líria porto

eu disfarço tergiverso
finjo que ela nem existe
a tristeza me persegue
pede água pede alpiste

*

plenilúnio

líria porto

doce deleite
queijo do serro ou da canastra
(c)asa de mineiro

seresta

*

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

almodóvar

líria porto

outubro outubra-a
e sempre de (as)salto
vestido encarnado
sapatos vermelhos
:
a rosa que dança
aberta no asfalto
tem cheiro de carne
tem jeito de chaga
tem sangue no tango
tem nome de cármen

*

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

camelo

liria porto

vou comê-lo
depois rumino
a rima

*

ancestral

líria porto

nas digitais
sinais atávicos

seria mais feliz
solta no mato

*

a reza do povo

líria porto

o pão nosso de cada dia
sovado por estes braços fatigados
não nos seja subtraído por ninguém
menos ainda pelos donos do mundo
manipuladores da dor
e da miséria
:
amemo-nos

*

amorosamente

líria porto

o girassol olha o sol
com olhar de lua

*

curiosidade

líria porto

ao olhar atento
não lhe escapa a capa
nem o que está dentro

*

troviscos

líria porto

a vida segue a galope
em verdade o tempo venta
e neste piscar de olhos
já tenho mais de setenta

o meu espelho envelhece
depressa fica embaçado
daqui a pouco me esquece
veste pijama listrado

viver é tão de repente
a morte – eterno mistério
em noites de lua plena
não fico triste nem sério

quem quiser dançar comigo
tomar lugar nesta roda
coloque piercing no umbigo
ou cabelos cor-de-rosa

(sujei minhas mãos na terra
entendo os ranços da vida
exceto judiação
miséria fome e injustiça)

*

de virada

líria porto

sonhos redondos
bolas de futebol

*

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

t. salomão

líria porto

eu tinha uma parceira
a turca

com ela eu tomava chuva
pisava nas enxurradas
voltávamos do colégio juntas
íamos ao cinema - ríamos
e chorávamos

tereza morreu e eu
sinto saudades
de mim

*

brejo alegre

líria porto

o vento varria tudo
só ficava no lugar
quem tinha força raiz
aqueles que resistiam
às agruras do cerrado
ao ferrão dos pernilongos
à mortal monotonia

às vezes sinto saudade
retorno por alguns dias
depois volto para casa
coração a borbulhar
a transbordar boa água
agonias descampados
pessoas inesquecíveis

*

des_maio

líria porto

desmalha-se
vive\morre um pouco
floco de neve pétala
rio solto no despenhadeiro
poeira
brasa no borralho

(passarinho rompe o ovo
abre o olho pela primeira vez)

*

patrulha

líria porto

as sirenes
as viaturas

inocentes pagam
pelos predadores

*

luzes

líria porto

as cores mudam

a olhar miúdo
o azul me ilude

*

terça-feira, 20 de outubro de 2009

caráter

líria porto

mexe-se na fachada na pintura
a estrutura permanece
o alicerce

*

sem telha

líria porto

o vento sopra o fogo sobe
ninguém segura maria
:
ela só volta amanhã
brasa coberta
de cisma

*

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

criancice

líria porto

a mariposa
pousou numa rosa
roubou duas pétalas
voou como a borboleta

*

escape

líria porto

é bom brincar de passarinho
abrir os braços a fingir – sou livre
fechar os olhos e planar no sonho
pensar num ninho ao voltar
pra casa

*

(publicado no livro olho nu - ed. patuá) lamentações

líria porto

chorei todos os rios mares oceanos
todas as lágrimas das viúvas todas as chuvas
molhei todas as toalhas lenços lençóis
e fronhas
:
chorei as pitangas

*

domingo, 18 de outubro de 2009

longe

líria porto

quanto mais batia a clara
quanto mais batia a gema
quanto mais crescia o ovo
tanto mais eu me lembrava
de como gostas de bolo

coloquei manteiga açúcar
misturava com a colher
eu ficava com saudade
deu vontade de te ver
de voar onde estivesses

o fermento a farinha
o leite o sentimento
a essência do teu jeito
o gosto bom do teu beijo
eu te queria por perto

esqueci de um detalhe
olha só que distração
ao invés de assar o bolo
congelei foi a saudade
a lágrima a distância

o choro

*

aqui jaz

líria porto

um dia o moreno vai voltar
e quando regressar será mui tarde

haverá em minha lápide o epitáfio
bebeu taça de ausência
e de saudade

*

clandestino

líria porto

vou aí onde tu vives
andar pela tua rua
ver a lua que tu vês
o teu mar a tua praia
conhecer cada nervura
entranhada nos caminhos

depois volto para casa
e de ti que me esqueceste
saberei cada detalhe
cada pedaço fatia
que por desamor descaso
trataste de me esconder

*

sábado, 17 de outubro de 2009

pomo-de-adão

líria porto

a folha de parreira
as vergonhas de eva

pecado é comer maçã
com gosto de isopor

*

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ascensão

líria porto

as alegrias postiças
jamais se sentira gente
foi só dor e sujeição
e o filho do patrão
pôs-lhe um filho na barriga
(o menino não vingou)

ela nasceu no sertão
naquela sede de tudo
coração esfarinhado
o chão era pai e mãe
e a terra seca sem viço
sua cama seu colchão

seu corpo virou moeda
moído na mão de todos
fosse qual fosse o macho
os direitos sobre ela
trocavam-na por qualquer troco
partiam sem despedidas

nessa sorte sem fortuna
o seu corpo definhou
virou pele sobre ossos
nem freguês e nem comida
desgostou-se de tal fado
foi ser feliz lá em cima

agora maria brilha
o seu espelho é a lua
o travesseiro uma nuvem
ficou linda como nunca
a estrela mais bonita
das que enfeitam a noite

*

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

propriedade

líria porto

na casa onde moro
sou peixe dentro do aquário
nado peito borboleta
mergulho flutuo divirto-me
afundo choro trabalho
nada aqui é proibido

eu sonho e tenho o mar
o atlântico o pacífico
um lago imenso tranquilo
um rio de águas claras
uma bacia uma bica
tanto faz

a casa é minas

*

estrelado

líria porto

numa panela de pedra
manteiga alho cebola
deixar dourar só um pouco
pôr a medida de arroz
o dobro d'água fervente
temperar com sal a gosto
quando secar  que delícia
comer purinho com ovo

*

fogaréu

líria porto

há um verso intermitente
está sempre à tocaia

no espelho vejo-o avesso
nuvem negra me atrapalha

sem espada sem nobreza
submeto-me à cangalha

ele empurra o travesseiro
abro os olhos mui calada

ele deita no meu peito
quer rasgar minha mortalha

eu tão pálida tão sem jeito
ele abusa de um atalho

e se instala no meu ventre

(sê poeta não te entraves
nem te escondas do crepúsculo
os vermelhos ficam grávidos)

*

não vou te esquecer

líria porto

quando eu me for daqui
um lugar que desconheço
e ficar a sete palmos
onde os vermes têm fome
for largada numa vala
a minha carne sem dono
quando eu me for daqui
a vagar pelos escuros
e deixar os meus afetos
meus apegos meus amores
esses versos sem destino
farão a ponte

*

terça-feira, 13 de outubro de 2009

cabuloso

líria porto

talvez eu seja esteja sempre tenha sido ou me torne
daquelas pessoas a ouvirem as pedras antes de atirá-las
pense em rimas estridentes a implorarem esmola nos semáforos
debaixo de tempestade ou chuva de granizo
(numa sacola de plástico)
e fale fale fale ou não diga nada feche-me em silêncios
dê quatro ou sete estalos estéreis histéricos agressivos adjetivados
fique mudo ou gago

ninguém me compreende –– sinto dor nevrálgica
e não dor de dente

*

das mãos de cora

líria porto

versos de milho
agora nos alimentam

nós
poetas sem rima
exilados da terra
vidas de cimento

*

editora lê - ausculta

líria porto

quando vieres meu bem
insiste na campainha
o tempo esse moleque
pôs tampão nos meus ouvidos

não meças minha emoção
pelo tamanho dos versos
quando sinto - sinto muito
as palavras me emudecem

*

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

in_descartáveis

líria porto

dentre nossas tralhas
muitas lembranças
:
nenhuma te sirva de mortalha
nem se assemelhe à esperança

*

insosso

líria porto

dia de segunda
embora feriado

sem gosto de sábado
sem cheiro de domingo

dia sorumbático

*

a prole

líria porto

busco energia
nas quatro philhas
recarregáveis

*

casanova

líria porto

um sofá para jandira
de couro macio
cheiro de cio
um querer bem

um sofá de canto
para o acalanto
o chamego
o quebranto

(a cor não importa
o outro era branco)

um sofá para jandira
descansar da lida
relembrar os amores
esquecer agonias

(ser feliz)

um sofá para jandira
sentar-se aos domingos
cochilar e sonhar
com delícias

um sofá de nuvem
algodão ou pluma
um sofá de balanço
um colo

(de braços fortes)

*

arrimo

líria porto

fico a esperar prazenteiro
maria vem todo dia
traseiro fenomenal
meu fundo de garantia

essa mulher maravilha
leva-me em sua canoa
abastece minhas pilhas
faz-me a vida muito boa

navego nas suas ondas
no céu da boca o delírio
minha alegria se alonga
maria é o ar que respiro

sou marinheiro de sorte
maria é minha guarita
a morte vem e me abate
maria me ressuscita

*

domingo, 11 de outubro de 2009

batente

líria porto

sente o seu cheiro
abraça-a por trás
encaixe perfeito

beija-lhe as costas
morde sua nuca
bole nos mamilos

o relógio desperta
fala afobada
:
sossega marido
é segunda-feira

*

sábado, 10 de outubro de 2009

solteirona

líria porto

rezava pedia implorava
ia à missa todo dia
às novenas
prometia batia o pé
santo antônio fazia-se
de surdo

*

(publicado no livro olho nu - ed. patuá) das cicatrizes seculares

líria porto

um dia — pequeno — partiste eu fiquei
restou-se-me a culpa estrago sem jeito
saí pelas ruas de olhos sem ver
prendessem-me matassem-me
arrancassem-me os seios

(chorei como a chuva do mês de dezembro)

virei enxurrada poça d’água represa
secou-se-me o leite a vida ruiu
um raio partiu minha alma o espelho
morri reencarnei e ainda padeço
são mil estilhaços com teus olhos dentro

*

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ressentimento

líria porto

era traído
e traía

um tiro dentro do ouvido
uma coroa de flores
e os seguintes dizeres
:
a quem amo/odeio

*

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

o fio da meada é cor de prata (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)

líria porto

o tempo passarava e o canto do galo
rasgava como um dardo as madrugadas

amanhã era hoje num instante
embora nos olhássemos
e jamais fôssemos grandes

a vida pássara
traz-nos cabelos brancos

o galo canta
não sei se agora
                      ou ontem

*

o seminarista

líria porto

afunda-se no decote
margeia seus mamilos
escorre pelas bordas
desvia-se até o quadril
desce-lhe pelas coxas
retorna a seu umbigo
enquanto a prima dorme
cheirosa como flor
biquíni de bolinhas

(virgem por um triz)

*

socorro

líria porto

azuis se machucam
ficam quase roxos
caem e desmaiam
como hematomas

chamo a enfermeira
vem roberta silva
faz-lhes boca a boca
eles se aproveitam
:
beijo de língua

*

pulmões

líria porto

refutam resfolegam refustigam
e têm a mania de pegar
pneumonia

*

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

secret-ária

líria porto

eu tu

nós

atas
desatas
meus olhos

*

almofariz

líria porto

à dor do alho socado com sal
comparo a topada do dedão

*

devastação

líria porto

em belo horizonte
a fé não (re)moveu a montanha
fê-lo a mbr s/a
(minerações brasileiras reunidas
sociedade anônima)

*

campos altos

líria porto

colina após colina
o horizonte se desdobra
e onde pensamos que termina
ainda há minas
:
incontáveis

*

terça-feira, 6 de outubro de 2009

passe livre (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)

líria porto

quando a foice do destino
ceifar de mim as estrelas
vai me encontrar precavida
não sou de arrastar sandálias
:
já vivi suficiente
das cangalhas me livrei
aprendi a bater asas
a circular sem fronteiras

*

invisibilidade

líria porto

esta dor que quando olhas
não compreendes por quê
não é de fratura exposta
é de amor sem resposta
a solidão ninguém vê

*

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

gradil

líria porto

na gaiola um passarinho
mavioso sabiá –– pobrezito triste sina
ter asas de não voar

*
*
o silêncio é poliglota
comunica-se e faz-se entender
em todas as línguas
*
líria porto

(publicado no livro olho nu - ed. patuá) providência

líria porto

antes que a luz me apague
visto teu olho nu

*

remorso

líria porto

mar revolto
ondas de tristeza e dor
mescladas de vazios solenes

(deixa-me chorar o choro inteiro)

*

(publicado no livro asa de passarinho - ed. lê) - façanha

líria porto

tinha três anos não mais
fez um buraco n’areia
e num balde pequenino
buscava água do mar

(trabalhou horas a fio)

quando viu a maré cheia
deu um sorriso e gritou
mamãe mamãe corre aqui
trazi o mar para a praia

*

a todo vapor

líria porto

passageiros como as nuvens
deixem-nos chover
trovejar mudar de forma
derreter ante o azul
evaporar

viver é névoa

*

grisalhos

líria porto

pelas ruas e esquinas
pelos brancos à procura
de aventura e vida

*

(publicado no livro olho nu - ed. patuá) quando o amor se esfuma

líria porto

de tanto tecer possibilidades
tive l.e.r. (lesão por esforço repetitivo)
e quase fiquei triste

ainda não desisti
                          embora a dor persista

*

domingo, 4 de outubro de 2009

(publicado no livro asa de passarinho - ed. lê) - arte

líria porto

existe um ipê amarelo
floresce na minha serra
antes da chuva ele explode
nada vi assim tão belo

eu acho – o menino deus
esteve a brincar com ovo
sujou os dedos de gema
e limpou a mão nas flores

*

in_experiência

líria porto

eu plantei uma roseira
quando ela floresceu
sangrou-me os dedos

(ou rosas são perigosas
ou não sei lidar com elas)

*

sábado, 3 de outubro de 2009

meia volta

líria porto

nuvem escura vento forte
a carroça do leiteiro com capota
maricota –– bota a saia na cabeça
lá vem chuva

*

todo dia

líria porto

pergunto à poesia
ela não responde talvez saibas
: onde amarrei meu burro?

*

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

babel

líria porto

letras embaralhadas perfilam-se
não entendo patavina

poliglotas trogloditas cientistas eruditos
dei nós na ponta da língua

*

(publicado no livro garimpo - editora lê) - especulação

líria porto

viver é capricho
ou é nada disso
quem pode saber
se as pedras não dizem
os lagos cochilam
os montes se calam
e os homens não prestam
atenção

*

evidências

líria porto

falar de amor a quem amamos é tão óbvio
que até nos descuidamos

esquecemo-nos de perfumar os dias óbvios
oferecer as flores óbvias dizer o óbvio eu te amo
e fica tudo assim tão óbvio que amar
parece desamor

*

dormentes

líria porto

o corpo quieto estirado na cama
a alma vagueia por mundos e sonhos
e vai à espanha toureia o toureiro
e vai onde estejas te beija te beija
igual passarinho por céus e distâncias

conhece oceanos navios outros ares
corsários paragens reinados rebanhos
a alma é liberta o corpo é escravo
e peca e cansa padece envelhece
enquanto a alma prossegue encantada

*

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

mistura fina

líria porto

minha mão branca em tua cara preta
tua mão preta em minha cara branca
desancam quaisquer preconceitos

meu peito encaixado no teu
teu corpo por cima do meu
as pernas embaralhadas

café com leite

*

bandoleiras (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)

líria porto 

maritacas maritacam 
voam em bando 
bicam verdes amarelos 
e no meio da algazarra 
roubam caquinhos do céu 
para enfeitar as asas 

 *

a terrinha

líria porto

a saudade apertou
peguei a gaita a matula
e piquei a mula

fui pra brejo alegre

*

rebordosa

líria porto

levei do teu corpo a sede que tinhas
sem água boca amarga investigo
fui justo comigo?

*

rabo de fogão

líria porto

ora pelas lágrimas
ora pela fumaça
ora pelas lentes sujas
os olhos se embaçam
a vista se turva

*

dedicatória

nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio

(líria porto)



*















quem tem pena de passarinho
é passarinho

(líria porto)

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