zezinho dorme tranquilo ao lado de sua avó ele o início ela o fim de um encontro bonito entre uma velha e um menino que se querem muito bem e contam boas histórias
o dia começa chocho
o vento não move palha
por dentro esse marasmo
sequer o gosto amargo
dos cabos de guarda-chuva
e o sol fosco
nada diz
:
quem morre hoje
quem nasce
alguém faz aniversário
algo há que nos anime
a botar o pé na lua?
amar lua sol estrela
é fácil pra qualquer um
quero ver amar a nuvem
que nunca parece a mesma
vai-se com qualquer vento
e quando vem pra valer
é choradeira é barro
relâmpago raio
e trovão
poesia me esculhamba
manipula me domina
vai embora pro puteiro
enche a cara vai em cana
sai e diz que ainda me ama
eu a levo para a cama
e assim a gente vive
:
e morre
e ressuscita
o lençol em desalinho não é cetim nem percal sequer tem cento e cinquenta fios são quatro sacos de farinha (algodão cru) encardidos remendados sobre o colchão de capim onde a gente dorme e come mal
a boca é grande
mastiga mastiga mastiga
mas não engole
e o bolo na garganta
(espécie de rolha)
misturado com saliva
cospe ou vomita
:
bebe outro copo
de vodka
o velho a velha
rumo à pracinha
para a ginástica
conversam riem
falam do tempo
e do passado
:
uns movimentos
logo se cansam
retornam à casa
vão de mãos
dadas
doar os seus beijos
deixar que se insurjam
dentre os travesseiros
dos homens maduros
que saibam o sabor
do amor e da dúvida
e não tenham medo
de um dia perdê-los
pois os sentimentos
por fortes que sejam
não duram pra sempre
um dia diluem-se
e deixam um travo
na boca
nenhum(a) personagem escolheu-me
para escrever sua história
(sacanagem preconceito
falta de compaixão)
dar-lhe-ia páginas palavras
coragem romance
e meu sangue
em troca
nosso avô
imperador dom elias porto das arábias
comunista de carteirinha
soberano e vassalo do meu coração
vivia cercado de netos
fazia-nos todos os gostos
governava-nos com amor
e bondade