domingo, 19 de março de 2023

the end

 

quando a vida amarela

a gente sai de fininho

vai dormir no campo santo

o sono eterno


*


quarteto

 

meu leite não brotou para a primogênita

inflamou-se o meu peito para a caçula

porém a segunda - esta me mamou inteira

até mesmo quando a terceira

já habitava meu útero


*

pé atrás


onde crescem as certezas

minhas dúvidas proliferam


*

entrave


a ave a nave

a clave a chave

tudo fora do lugar

o tempo todo


*

o viúvo

 

ia de bengala - a pender pro lado

como se tentasse encostar em alguém

e movia os lábios

às vezes sorria

:

todos o olhavam

faziam comentários

as bodas de diamante

a festa no clube

a viagem de navio

(convites distribuídos 

passagens compradas)

seriam mê que vem


*


casulo

 

de me enrolar em fios desencapados

vou acabar chamuscando as asas


*

progresso

 

a bola de neve

presa no guindaste

foi arremessada

sobre a fachada

do velho cinema

esse amontoado

de madeira e entulho

suspiros e terra

amassos e beijos

dentro do escuro


*

reclusão

 

há mais de ano o sol não me lambe

nem o vento me levanta a saia


*

titia

 

ralava cenouras cebolas medos

picava folhas de couve 

quiabos espantos

cheiro-verde

até sangrar os dedos

e a solidão


*

certezas


exato

e é tudo tão preciso

que desconfio


dedicatória

nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio

(líria porto)



*















quem tem pena de passarinho
é passarinho

(líria porto)

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