líria porto
o silêncio ensina-nos a partir
a deixar ambientes que não nos pertençam
a sair de ininho - sem chamar atenção
sem sequer precisar despedir-nos
*
líria porto
o silêncio ensina-nos a partir
a deixar ambientes que não nos pertençam
a sair de ininho - sem chamar atenção
sem sequer precisar despedir-nos
*
líria porto
plantar filhos
(podá-los quando necessário
e afastá-los das ervas daninhas)
escrever árvores
(em todas as folhas)
parir livros
(gestá-los com paciência
não devem nascer prematuros)
*
líria porto
após séculos - milênios
continua deletérea
a maltratar as pessoas
tratá-las com indiferença
:
não se desfaz do que tem
nem de quem se aproxima
- não diretamente -
acumula-os
e os mantém
dependurados ém pregos
amontoados nos cantos
com cheiro de naftalina
(pela milionésima vez
retornará solitária
à catacumba)
líria porto
não uma colher uma xícara um pires - a fonte
onde nunca mais sentisse sede
e pudesse me banhar
*
líria porto
tal como a formiga carrega uma folha
assim o poeta transporta a palavra
(um peso maior que o do corpo)
*
líria porto
somos pele sangue nervos
ossos músculos fibras
amalgamados pelos nossos pensamentos
desejos manias qualidades defeitos
energia
*
líria porto
apenas o que quero
se quero quando quero
não - não é assim
não depende só de mim
sou tão somente
um os elos
da corrente
*
líria porto
muita vez dobro as palavras
outras elas me dobram
embolam-me
atiram-me ao cesto
ao térreo
*
líria porto
quando vovó morreu
mamãe chorou muito
quando meu pai morreu
mamãe ficou apática
quando minha irmã morreu
(sua filha caçula)
maãe se esqueceu de tudo
(até e uem era
e mergulho
na própria
finitude
*
líria porto
lírico
sou eu
atrapalho-me
há litígios
nem tentes
compreender-me
nada
é quase tudo
e vice-verso
*