líria porto
saúdo o vind_ouro
e o ano que finda
:
um brinde à beleza ao amor
ao riso à amizade
à poesia
e ao tantim de sacanagem
que de ferro
nem as montanhas de minas
(cavadas por trás)
*
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
oferenda (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)
líria porto
vou jogar flores no mar
levar comida perfume
espelho pentes enfeites
agradecer janaína
pelo balanço das ondas
pelo azul pela espuma
pelo ano de fartura
pela coragem saúde
e também pedir perdão
por ser assim imperfeita
e até pela tristeza
que às vezes
finjo
*
vou jogar flores no mar
levar comida perfume
espelho pentes enfeites
agradecer janaína
pelo balanço das ondas
pelo azul pela espuma
pelo ano de fartura
pela coragem saúde
e também pedir perdão
por ser assim imperfeita
e até pela tristeza
que às vezes
finjo
*
à perfeição
líria porto
fosse a lua um abajur
eu me vestisse de nuvem
usasse estrelas no cabelo
dormisse em lençol azul
escrevesse igual clarice
cheirasse como cecília
tivesse o miolo de adélia
a raiz de coralina
amar-me-ias
*
fosse a lua um abajur
eu me vestisse de nuvem
usasse estrelas no cabelo
dormisse em lençol azul
escrevesse igual clarice
cheirasse como cecília
tivesse o miolo de adélia
a raiz de coralina
amar-me-ias
*
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
re_visão
líria porto
olhos que me olham desde sempre
olhos do passado olhos de hoje
mesclados de olhares impotentes
reconheço nestes olhos os meus olhos
a olharem-me por dentro e por fora
a observarem-me ora amorosos
ora cruéis
*
olhos que me olham desde sempre
olhos do passado olhos de hoje
mesclados de olhares impotentes
reconheço nestes olhos os meus olhos
a olharem-me por dentro e por fora
a observarem-me ora amorosos
ora cruéis
*
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
ao apagar das luzes
líria porto
bebo água do regato
(é quase um resgate)
e de fato ganho força
pra seguir em marcha
:
ninguém sabe
a hora da morte
*
bebo água do regato
(é quase um resgate)
e de fato ganho força
pra seguir em marcha
:
ninguém sabe
a hora da morte
*
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
desassossego
líria porto
a desconfiança a dúvida
não se saber do amanhã
a vida sem corrimão
o medo a causar angústias
dores de cabeça úlceras
não resolvem nada adiantam
só quando o agora surge
aparecem as soluções
(escapam de quaisquer planos
as certezas no futuro – cada coisa cada uma
tem a dimensão que damos)
a desconfiança a dúvida
não se saber do amanhã
a vida sem corrimão
o medo a causar angústias
dores de cabeça úlceras
não resolvem nada adiantam
só quando o agora surge
aparecem as soluções
(escapam de quaisquer planos
as certezas no futuro – cada coisa cada uma
tem a dimensão que damos)
*
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
cartinha de malandro
líria porto
o que queres ninguém dá e nem se sente obrigado
pois champanhe e caviar arrebentam o orçamento
de quem vive de salário
vai trabalhar vagabundo
*
o que queres ninguém dá e nem se sente obrigado
pois champanhe e caviar arrebentam o orçamento
de quem vive de salário
vai trabalhar vagabundo
*
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
febre
líria porto
havia um vazio
tão frio por dentro
eu não chorava
nem ria
um dia veio um sujeito
encheu o vazio de um jeito
o frio que eu tinha no peito
entrou em ebulição
(paixão ferv_ilha)
*
havia um vazio
tão frio por dentro
eu não chorava
nem ria
um dia veio um sujeito
encheu o vazio de um jeito
o frio que eu tinha no peito
entrou em ebulição
(paixão ferv_ilha)
*
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
(para o livro sem pecado não tem salvação) mea culpa
líria porto
não vou para o céu
pequei por prazer por vontade
fá-lo-ia mil vezes sem me arrepender
sem me curvar às igrejas
e aos puritanos
*
não vou para o céu
pequei por prazer por vontade
fá-lo-ia mil vezes sem me arrepender
sem me curvar às igrejas
e aos puritanos
*
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
(peguei o sol no pulo) êxtase
líria porto
a casca fez crec
a alma saiu pela fresta
voou para onde os poetas
os artistas
livres do peso do corpo
tocaram o infinito
*
a casca fez crec
a alma saiu pela fresta
voou para onde os poetas
os artistas
livres do peso do corpo
tocaram o infinito
*
madrugada
líria porto
entre a noite e a manhã
antes da hora do galo
do cantar da passarada
um azul muito encorpado
(vou chamá-lo azul-cobalto)
e o brilho das estrelas
encobriram-me a carcaça
qual o manto de brocado
da rainha
*
entre a noite e a manhã
antes da hora do galo
do cantar da passarada
um azul muito encorpado
(vou chamá-lo azul-cobalto)
e o brilho das estrelas
encobriram-me a carcaça
qual o manto de brocado
da rainha
*
domingo, 19 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
pavio
líria porto
o sal na saliva a conversa ácida
a fala ferina o frio sem face
cuidado menina o tempo é severo
a mesma chama que ilumina
derrete a cera da vel(h)a
*
o sal na saliva a conversa ácida
a fala ferina o frio sem face
cuidado menina o tempo é severo
a mesma chama que ilumina
derrete a cera da vel(h)a
*
teimosia
líria porto
a poesia some
não me desespero
ela volta um dia
e traz tanto verso
que a mando embora
para ter sossego
:
ela só faz
o que quer
*
*
a poesia some
não me desespero
ela volta um dia
e traz tanto verso
que a mando embora
para ter sossego
:
ela só faz
o que quer
*
*
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
rodeio
líria porto
o mal do girassol
embora (h)aja ríspido
não é torcicolor
im_postura
é câncer de pétala
*
o mal do girassol
embora (h)aja ríspido
não é torcicolor
im_postura
é câncer de pétala
*
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
pre_meditado
líria porto
na verdade eu tinha mentiras para lhe dizer
mas frente à sua ira resolvi calar-me
e o que (h)ouve
permanece
*
na verdade eu tinha mentiras para lhe dizer
mas frente à sua ira resolvi calar-me
e o que (h)ouve
permanece
*
para 黒澤 明
líria porto
patinhos amarelos
com laços de fita vermelhos
voavam no meio do sono
(travesseiros de penugem)
*
patinhos amarelos
com laços de fita vermelhos
voavam no meio do sono
(travesseiros de penugem)
*
domingo, 12 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
soberania
líria porto
voei conheci o céu
mergulhei em todo abismo
tirei o mel das colmeias
morei em palácio
hospício
fui pra guerra viajei
noutras terras renasci
quebrei pedras singrei mares
vi tubarões
vi delfins
liberdade liberdade
é dormir entre os teus braços
enroscar-me - nu teu corpo
voei conheci o céu
mergulhei em todo abismo
tirei o mel das colmeias
morei em palácio
hospício
fui pra guerra viajei
noutras terras renasci
quebrei pedras singrei mares
vi tubarões
vi delfins
liberdade liberdade
é dormir entre os teus braços
enroscar-me - nu teu corpo
qual erva-de-passarinho
*
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
crítico
líria porto
de dentro de cada verso
não sei dizer dos enguiços
então me ponho distante
a lê-lo com olhar cítrico
destroço tanto cavaco
tanta sombra adjetivo
pode perder em tamanho
mas ganha maior sentido
(pelo menos para mim)
*
de dentro de cada verso
não sei dizer dos enguiços
então me ponho distante
a lê-lo com olhar cítrico
destroço tanto cavaco
tanta sombra adjetivo
pode perder em tamanho
mas ganha maior sentido
(pelo menos para mim)
*
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
(peguei o sol no pulo) para relembrar ava gardner
líria porto
nos teus olhos de petisco
um chuvisco me matava
eu por isso me arrisco
e rebusco a tua lava
há nesta área de risco
o fogo que me faltava
alguma espécie de isca
alguma espécie de trava
*
nos teus olhos de petisco
um chuvisco me matava
eu por isso me arrisco
e rebusco a tua lava
há nesta área de risco
o fogo que me faltava
alguma espécie de isca
alguma espécie de trava
*
nós - filhos da meada
líria porto
olhos nos olhos tão intensos
sempre penso – mais que amantes
somos cúmplices
sempre penso – mais que amantes
somos cúmplices
*
brejo-me
líria porto
choro orvalho chuvisco
marejo empoço infiltro
enxurro-me alago-te
rio-me
para crocodi-lo
pântano
*
choro orvalho chuvisco
marejo empoço infiltro
enxurro-me alago-te
rio-me
para crocodi-lo
pântano
*
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
tonel
líria porto
não quero prosa
eu bebo verso
e me embriago
de poesia
um gole outro
mais uma taça
dá-me outro trago
uma garrafa
na saideira
não faço fita
sem brincadeira
dose infinita
*
não quero prosa
eu bebo verso
e me embriago
de poesia
um gole outro
mais uma taça
dá-me outro trago
uma garrafa
na saideira
não faço fita
sem brincadeira
dose infinita
*
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
(publicado no livro garimpo - editora lê) - conquista
líria porto
da primeira vez
que eu vi o mar
só pensei em asas
em voar pra longe
da segunda vez
que eu vi o mar
pensei numa barca
entrar devagar
da terceira vez
que eu vi o mar
não pensei em nada
atirei-me n'água
e nadei nadei
quase igual um peixe
um rio
uma onda
da próxima vez
quando eu vir o mar
vou morrer no mar
atirar a âncora
*
da primeira vez
que eu vi o mar
só pensei em asas
em voar pra longe
da segunda vez
que eu vi o mar
pensei numa barca
entrar devagar
da terceira vez
que eu vi o mar
não pensei em nada
atirei-me n'água
e nadei nadei
quase igual um peixe
um rio
uma onda
da próxima vez
quando eu vir o mar
vou morrer no mar
atirar a âncora
*
(publicado no livro garimpo - editora lê) - facilidades
líria porto
para quem ama
toda lonjura é perto
curvas se dissolvem
mares se evaporam
caminhos são atalhos
o rio
é um pingo
de colírio
*
para quem ama
toda lonjura é perto
curvas se dissolvem
mares se evaporam
caminhos são atalhos
o rio
é um pingo
de colírio
*
domingo, 5 de dezembro de 2010
hospitalidade
líria porto
entra senta-te - queres um doce
pergunta o menino à visita
e por certo imita a mãe
:
as tradições
*
entra senta-te - queres um doce
pergunta o menino à visita
e por certo imita a mãe
:
as tradições
*
a_puro (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)
líria porto
a chuva
lavou a ladeira
tirou todo o barro
deixou tudo
um brinco
então meu amor
sobe a serra
de alma lavada
sorriso nos lábios
e pés limpos
*
a chuva
lavou a ladeira
tirou todo o barro
deixou tudo
um brinco
então meu amor
sobe a serra
de alma lavada
sorriso nos lábios
e pés limpos
*
sábado, 4 de dezembro de 2010
africanos
liria porto
negros retintos dentes de marfim
olhos e cílios tão lindos
mais parecem desenho
negros retintos dentes de marfim
olhos e cílios tão lindos
mais parecem desenho
em nanquim
*
penas de ganso
líria porto
o homem dormia
um sono profundo
ali na calçada
e eu que comprara
dois travesseiros
pensava – oh mundo
só preciso de um
e tenho insônia
*
o homem dormia
um sono profundo
ali na calçada
e eu que comprara
dois travesseiros
pensava – oh mundo
só preciso de um
e tenho insônia
*
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
vovós
líria porto
a um
a dois
a que faz bolos
(deliciosos)
a que manda livros
(ótimos)
a que mora perto
(em araxá)
a que mora longe
(em belo horizonte)
:
duas vovós
e uma linda neta
de olhos cinzentos
*
a um
a dois
a que faz bolos
(deliciosos)
a que manda livros
(ótimos)
a que mora perto
(em araxá)
a que mora longe
(em belo horizonte)
:
duas vovós
e uma linda neta
de olhos cinzentos
*
equiparação
líria porto
brutas
lapidadas
pedras
doutores
operários
gente
uns
outros
:
a mesma
essência
*
brutas
lapidadas
pedras
doutores
operários
gente
uns
outros
:
a mesma
essência
*
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
extrassístole
líria porto
segue o método
vai no ritmo
num caminho
de sossego
de repente
o requebro
:
perde a compostura
*
segue o método
vai no ritmo
num caminho
de sossego
de repente
o requebro
:
perde a compostura
*
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
sonetímido
líria porto
eu não sei fazer sonetos
eu juro que não consigo
os meus versos são gravetos
não é isso que persigo
procuro rimas eu tento
a que me chega é tão pobre
falta mesmo de talento
ao contrário de ouro - cobre
ilumine-me esta luz
eu não saia dessa trilha
do encanto do rouxinol
quero um verso que reluz
a perfeita redondilha
uma nesga do arrebol
*
eu não sei fazer sonetos
eu juro que não consigo
os meus versos são gravetos
não é isso que persigo
procuro rimas eu tento
a que me chega é tão pobre
falta mesmo de talento
ao contrário de ouro - cobre
ilumine-me esta luz
eu não saia dessa trilha
do encanto do rouxinol
quero um verso que reluz
a perfeita redondilha
uma nesga do arrebol
*
palavras da minha avó
líria porto
não batas no teu menino
tal atitude é covarde
humilha-o mais que o ensina
deixa-lhe marcas na alma
ele em teu colo –– sê firme
usa palavras suaves
pronuncia os sins possíveis
os tantos nãos necessários
quem ama aponta orienta
alisa e alarga a estrada
*
não batas no teu menino
tal atitude é covarde
humilha-o mais que o ensina
deixa-lhe marcas na alma
ele em teu colo –– sê firme
usa palavras suaves
pronuncia os sins possíveis
os tantos nãos necessários
quem ama aponta orienta
alisa e alarga a estrada
*
celi_batráquio
líria porto
não se acerta lá
não se acerta aqui
não ganha beijo na nuca
nem come doce de cidra
:
fica às moscas
*
não se acerta lá
não se acerta aqui
não ganha beijo na nuca
nem come doce de cidra
:
fica às moscas
*
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