são paulo sofre de insônia acorda antes do sol e quando cochila ronca revira as margens o leito do tietê e do rio pinheiros : são paulo não para nem para ver a garoa nem para olhar a paisagem
flor de miosótis
flor de açucena
flor de qualquer jeito
(grande ou pequena)
flor que desabrocha
dentro do teu peito
mas que fora murcha
seca
sem cor sem perfume
e nem nome tem
amou ou dois
o que lhe alegrava a carne
e tinha beijo concreto
e tinha cheiro de macho
e o outro – o muso
o seu amor de verdade
a alimentar-lhe o sonho
qual fosse doce
ou amargo
dois canos da espingarda
iguais em tudo
nos sonhos nos ideais
nos tiros assim sem rumo
que disparavam a esmo
:
uma virou madame
vai à missa tem marido
a outra é guerrilheira
feiticeira meio bruxa
ateia fogo no rabo
ainda assim faz milagre
cisco no olho
pedra no sapato
qualquer outro incômodo
inveja mau olhado
podem nos jogar
no fundo do buraco
:
arruda na orelha
figa no pescoço
banho de sal grosso
até reza braba
podem nos livrar
da urucubaca