líria porto
curva após curva
o corpo se recompõe
não por coragem
por necessidade
a vi(d)a é sem retorno
*
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
extravio
líria porto
ter um amor e não sê-lo
qual envelope sem selo
conduz a lugar nenhum
a vida cobra com juro
por isso sei desconjuro
o desamor
*
ter um amor e não sê-lo
qual envelope sem selo
conduz a lugar nenhum
a vida cobra com juro
por isso sei desconjuro
o desamor
*
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
(des)entendimentos
líria porto
a chuva encharca o brejo
sapos coaxam por cima
corações germinam faz séculos
desfaço-me entre os seixos
espaço há o das mágoas
bem no âmago das pedras
palavras não têm chave
silêncio é sinal de término
e o tempo se acelera
em dias que nos amassam
:
estou a sentir-me velha
*
a chuva encharca o brejo
sapos coaxam por cima
corações germinam faz séculos
desfaço-me entre os seixos
espaço há o das mágoas
bem no âmago das pedras
palavras não têm chave
silêncio é sinal de término
e o tempo se acelera
em dias que nos amassam
:
estou a sentir-me velha
*
consumição
líria porto
descuidados os sonhos os projetos
enveredamo-nos pelas trevas
reviramo-nos para o lado avesso
sequer ensaiamos nova dança
*
descuidados os sonhos os projetos
enveredamo-nos pelas trevas
reviramo-nos para o lado avesso
olhos vermelhos
nós nos entornamos fora
esgota-se-nos a vida pelos poros
nós nos entornamos fora
esgota-se-nos a vida pelos poros
sequer ensaiamos nova dança
*
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
infinitivo
líria porto
navegar
flutuar sobre as ondas
balouçar
ancorar no profundo dos teus olhos
submergir
expirar
ter paz
*
navegar
flutuar sobre as ondas
balouçar
ancorar no profundo dos teus olhos
submergir
expirar
ter paz
*
menino do sino
líria porto
joão vai chegar
os nossos braços vazios
serão o colchão macio
joão vai reinar
na rima no estribilho
em minha filha e teu filho
joão vai chegar
aporta na tua aorta
escapa pra minha horta
joão vai reinar
*
joão vai chegar
os nossos braços vazios
serão o colchão macio
joão vai reinar
na rima no estribilho
em minha filha e teu filho
joão vai chegar
aporta na tua aorta
escapa pra minha horta
joão vai reinar
*
sábado, 26 de dezembro de 2009
(publicado no livro asa de passarinho - ed. lê) - a ira do pai
líria porto
como o mar
severo porém previsível
sabíamos do movimento das ondas
mas quando lhe subiam as marés
a nossa barca afundava
(quase afogávamos)
*
como o mar
severo porém previsível
sabíamos do movimento das ondas
mas quando lhe subiam as marés
a nossa barca afundava
(quase afogávamos)
*
peão
líria porto
é de telha de amianto
o quarto do tal caboclo
lá dentro um calor louco
cá fora o desencanto
as paredes sem reboco
a baixa cerca de arame
no almoço pão com salame
na janta sopa com osso
essa tristeza arrastada
essa vontade enrustida
são calos na sua alma
no espinheiro de vida
sonhar não pode não sabe
dorme no fundo do copo
assim se esquece da mágoa
e dos flagelos do corpo
*
é de telha de amianto
o quarto do tal caboclo
lá dentro um calor louco
cá fora o desencanto
as paredes sem reboco
a baixa cerca de arame
no almoço pão com salame
na janta sopa com osso
essa tristeza arrastada
essa vontade enrustida
são calos na sua alma
no espinheiro de vida
sonhar não pode não sabe
dorme no fundo do copo
assim se esquece da mágoa
e dos flagelos do corpo
*
sem noção
líria porto
a fúria desenfreada
faz o rio derramar
eu não rio da desgraça
rio é rio mar é mar
*
a fúria desenfreada
faz o rio derramar
eu não rio da desgraça
rio é rio mar é mar
*
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
sacos de linhagem
líria porto
no avesso da seda –– nós
da idade média
(aparências enganam
a nobreza)
) chita é infeliz
no shopping (
*
no avesso da seda –– nós
da idade média
(aparências enganam
a nobreza)
) chita é infeliz
no shopping (
*
vaudeville
líria porto
o vulto envolto em voile
vagava em volta do vinho
vício vertigem veleidade
ou vovó em vias
de voar?
*
o vulto envolto em voile
vagava em volta do vinho
vício vertigem veleidade
ou vovó em vias
de voar?
*
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
disposição
líria porto
acordar de madrugada
para ver o céu mudar
de escuro a azulão
arroxeado lilás
e chegar pé ante pé
aos tons da manhã
de lambuja ouvir os galos
os passarinhos os cães
as crianças buliçosas
de camisolas pijamas
ainda tontas de sono
(o amor
no outro lado
da cama)
tomar um banho um café
e já ter o dia ganho
pouco importa o que houver
no tempo no trânsito no trampo
no azedume do chefe
(ao final do expediente
retornar à casa)
*
(publicado no livro garimpo - editora lê) - namoro
líria porto
de encontro ao vento
ando lento pra sentir seus dedos finos
e seu corpo sem matéria
eleva-me do chão alguns centímetros
*
de encontro ao vento
ando lento pra sentir seus dedos finos
e seu corpo sem matéria
eleva-me do chão alguns centímetros
*
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
(publicado no livro garimpo - editora lê) - âncora
líria porto
mãe era sereia
cheiro de flor e manhã
tinha manto verdejante
nove filhotes
mãe era sereia
cheiro de flor e manhã
tinha manto verdejante
nove filhotes
no canto
pai era mar
ia e vinha
supria a casa de sal
e peixes
eu
grão de areia
existia
*
pai era mar
ia e vinha
supria a casa de sal
e peixes
eu
grão de areia
existia
*
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
poema antigo para nina rizzi
líria porto
o ipê secou
mas numa das galhas
há flores
(deus não abandona as árvores
que deus?
:
um que ria das dores e chore
de alegria)
*
o ipê secou
mas numa das galhas
há flores
(deus não abandona as árvores
que deus?
:
um que ria das dores e chore
de alegria)
*
proteção
líria porto
poderoso –– um penhasco
o pai olha o filho e ordena
passa aqui menino
o garoto
veloz como o vento
esconde-se atrás da avó
*
poderoso –– um penhasco
o pai olha o filho e ordena
passa aqui menino
o garoto
veloz como o vento
esconde-se atrás da avó
*
caim caim
líria porto
um grande um pequeno
coragem em pé de igualdade
no entanto
tamanho é documento
*
um grande um pequeno
coragem em pé de igualdade
no entanto
tamanho é documento
*
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
mãe
líria porto
se todos me pudessem ver
do jeito que ela me via
filhos não têm defeitos
são bons bonitos perfeitos
que pena - nem o espelho
tem seus olhos de magia
*
se todos me pudessem ver
do jeito que ela me via
filhos não têm defeitos
são bons bonitos perfeitos
que pena - nem o espelho
tem seus olhos de magia
*
conchas (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)
líria porto
é a coisa mais linda
carregar água na folha
d’inhame
imagina u'a mãe
a levar no colo
o recém-nascido
ou um ninho pequeno
com três filhotes
abrindo os bicos
é tão lindo quanto
*
é a coisa mais linda
carregar água na folha
d’inhame
imagina u'a mãe
a levar no colo
o recém-nascido
ou um ninho pequeno
com três filhotes
abrindo os bicos
é tão lindo quanto
*
(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - derrama
líria porto
de dentro pra fora
de fora pra dentro
atravessa a fresta
pula a janela
passa debaixo da porta
:
a luz não cabe
onde mora
*
de dentro pra fora
de fora pra dentro
atravessa a fresta
pula a janela
passa debaixo da porta
:
a luz não cabe
onde mora
*
sábado, 19 de dezembro de 2009
. quarto minguante
líria porto
se eu ficar quieta a olhar o teto
não me atrapalhes
pode ser que esteja a pensar nas vezes
que me dispensavas
*
se eu ficar quieta a olhar o teto
não me atrapalhes
pode ser que esteja a pensar nas vezes
que me dispensavas
*
desnutrido
líria porto
o amor morreu
sinto pena
há muito agonizava
melhor sepultá-lo hoje
rezar pela sua alma
enterrá-lo a sete palmos
regá-lo com nossas lágrimas
quem sabe nasce uma flor
amor-perfeito
saudade
*
o amor morreu
sinto pena
há muito agonizava
melhor sepultá-lo hoje
rezar pela sua alma
enterrá-lo a sete palmos
regá-lo com nossas lágrimas
quem sabe nasce uma flor
amor-perfeito
saudade
*
bipolar
líria porto
o céu despenca
quando não é sol é chuva
:
nascem como pés de avenca
ora dádivas ora dúvidas
*
o céu despenca
quando não é sol é chuva
:
nascem como pés de avenca
ora dádivas ora dúvidas
*
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
(para o livro sem pecado não tem salvação) moita
líria porto
queres mesmo vir –– pois chega inteiro
não tragas do teu mundo tantos vínculos
nem me trates por judith ou por marília
há coisas que emputecem as mulheres
causam-lhes queimaduras e feridas
são piores bem piores
que águas-vivas
*
queres mesmo vir –– pois chega inteiro
não tragas do teu mundo tantos vínculos
nem me trates por judith ou por marília
há coisas que emputecem as mulheres
causam-lhes queimaduras e feridas
são piores bem piores
que águas-vivas
*
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
passageiros
líria porto
embarcamos sem saber
para rumo ignorado
o trem segue pelos trilhos
sequer trouxemos bagagem
da infância à velhice
tão pequenino o atalho
num de repente o apito
já se faz tarde – neblino
é hora do desembarque
*
embarcamos sem saber
para rumo ignorado
o trem segue pelos trilhos
sequer trouxemos bagagem
da infância à velhice
tão pequenino o atalho
num de repente o apito
já se faz tarde – neblino
é hora do desembarque
*
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
. o diabo já foi anjo
líria porto
pelos pecadinhos alvos
ou pelo breu dos pecados
podemos ser condenados
ao furor do inferno
porém os pecados rubros
encarnados de sem lei
de luxúria de desejo
elevam-nos ao céu
:
eu sei tu sabes
queremos
*
pelos pecadinhos alvos
ou pelo breu dos pecados
podemos ser condenados
ao furor do inferno
porém os pecados rubros
encarnados de sem lei
de luxúria de desejo
elevam-nos ao céu
:
eu sei tu sabes
queremos
*
(publicado no livro asa de passarinho - ed. lê) - tocaia
líria porto
o gato pula
o passarinho escapa
azar de gato é passarinho
ter asas
*
o gato pula
o passarinho escapa
azar de gato é passarinho
ter asas
*
língua de trapo
líria porto
no (o)culto daquela santa
abriga-se um ser infame
a vasculhar nossas vidas
infiltrar-se em cada canto
assuntar com falso tampo
as nossas falhas
deslizes
acaso nada consiga
engendra casos intrigas
espalha-os à vizinhança
*
no (o)culto daquela santa
abriga-se um ser infame
a vasculhar nossas vidas
infiltrar-se em cada canto
assuntar com falso tampo
as nossas falhas
deslizes
acaso nada consiga
engendra casos intrigas
espalha-os à vizinhança
*
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
cuspiu no prato
líria porto
o cílio nasceu errado
virado furava o olho
o filho nasceu errado
ingrato feria a mãe
o mundo – esse quadrado
coalhado de desenganos
*
o cílio nasceu errado
virado furava o olho
o filho nasceu errado
ingrato feria a mãe
o mundo – esse quadrado
coalhado de desenganos
*
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
sábado, 12 de dezembro de 2009
desisto
líria porto
tento tanto tanto tento
e sem nenhum talento
insisto no assunto
:
sinto ter chegado a esse ponto
*
tento tanto tanto tento
e sem nenhum talento
insisto no assunto
:
sinto ter chegado a esse ponto
*
pesadelo
líria porto
vinha como curupira
em passos contrários
diluídos em lágrimas
os sonhos molhavam-lhe
os nervos
*
vinha como curupira
em passos contrários
diluídos em lágrimas
os sonhos molhavam-lhe
os nervos
*
professora ellena
líria porto
sabia pôr as palavras
uma por uma
com ou sem acento
em cem assentos macios
até que elas
sábias como os sabiás
alçassem voo
*
sabia pôr as palavras
uma por uma
com ou sem acento
em cem assentos macios
até que elas
sábias como os sabiás
alçassem voo
*
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
castigo
líria porto
cada qual tem uma cruz e a carrega
conforme a sua culpa e os motivos
muita vez junto da cruz há o remorso
ponta de espinho na garganta
dos omissos
*
cada qual tem uma cruz e a carrega
conforme a sua culpa e os motivos
muita vez junto da cruz há o remorso
ponta de espinho na garganta
dos omissos
*
neuras
líria porto
o que fizemos da vida
o que a vida fez de nós
desatamos desatamos nós
e ficamos amarrados
*
o que fizemos da vida
o que a vida fez de nós
desatamos desatamos nós
e ficamos amarrados
*
(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - insones
líria porto
a noite roía as unhas
um vento forte zunia
imenso o leito vazio
até a lua minguava
e não havia estrelas
eu tive pena da noite
negro manto de graúna
os piados da coruja
nuvem densa carrancuda
intranquilo céu de piche
uma sirene tocava
os mendigos sem abrigo
os bêbados a madrugada
a rouquidão os gemidos
a noite toda tremia
nem ela nem eu dormimos
*
a noite roía as unhas
um vento forte zunia
imenso o leito vazio
até a lua minguava
e não havia estrelas
eu tive pena da noite
negro manto de graúna
os piados da coruja
nuvem densa carrancuda
intranquilo céu de piche
uma sirene tocava
os mendigos sem abrigo
os bêbados a madrugada
a rouquidão os gemidos
a noite toda tremia
nem ela nem eu dormimos
*
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
soledad
líria porto
mansa como uma criança
a reparar na nuvem na pedra na lua na montanha
e a sensação estranha de ser tão sozinha
pássara
homens são um caso à parte
(parecem-lhe de marte)
*
mansa como uma criança
a reparar na nuvem na pedra na lua na montanha
e a sensação estranha de ser tão sozinha
pássara
homens são um caso à parte
(parecem-lhe de marte)
*
(publicado no livro asa de passarinho - ed. lê) - o canário
líria porto
aguarda a mudança das penas
depois abre o bico e fala o que pensa
*
aguarda a mudança das penas
depois abre o bico e fala o que pensa
*
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
apelação
líria porto
não tem papas na língua
não reza salve a rainha
nunca foi ao catecismo
com santos se desentende
é livre qual passarinho
porém na hora do aperto
sinal da cruz credo em cruz
e missa e terço
e novena
*
não tem papas na língua
não reza salve a rainha
nunca foi ao catecismo
com santos se desentende
é livre qual passarinho
porém na hora do aperto
sinal da cruz credo em cruz
e missa e terço
e novena
*
sereia (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)
liria porto
tecia as franjas do mar
picotava-as em bicos
estendia-as na praia
pr'areia ficar bonita
*
tecia as franjas do mar
picotava-as em bicos
estendia-as na praia
pr'areia ficar bonita
*
papo de aranha
líria porto
a palavra puxa o verso
desconverso
faço que não vejo
ela volta
rasga o verbo
faz-me cócegas
dá-me beijo
:
resistir
quem pode?
*
a palavra puxa o verso
desconverso
faço que não vejo
ela volta
rasga o verbo
faz-me cócegas
dá-me beijo
:
resistir
quem pode?
*
vacance
líria porto
nesse (i)mundo de teu deus
ateia à toa incrédula – leva o corpo
ao refestelo e faz castelo na areia
*
nesse (i)mundo de teu deus
ateia à toa incrédula – leva o corpo
ao refestelo e faz castelo na areia
*
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
conclusão
líria porto
quem sabe das tramas
das dobras da vida
aprendeu que as feridas
curam-se com o tempo
usemos mercúrio
ou unguento
no amor é assim
se alguém vai embora
choramos na hora
depois percebemos
damos graças
a_deuses
insubstituíveis
nem nós nem
laços
*
quem sabe das tramas
das dobras da vida
aprendeu que as feridas
curam-se com o tempo
usemos mercúrio
ou unguento
no amor é assim
se alguém vai embora
choramos na hora
depois percebemos
damos graças
a_deuses
insubstituíveis
nem nós nem
laços
*
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
. flores desabrocham
líria porto
insinuas compreendo
e sem nada explícito
fico nua tu te despes
em dias de delicadeza
o grotesco é belo
:
o sexo dos velhos
*
insinuas compreendo
e sem nada explícito
fico nua tu te despes
em dias de delicadeza
o grotesco é belo
:
o sexo dos velhos
*
domingo, 6 de dezembro de 2009
fu(tu)ro
líria porto
do amanhã saberei amanhã
e se eu estiver presente
(de repente algo acontece
e eu desaconteço)
*
do amanhã saberei amanhã
e se eu estiver presente
(de repente algo acontece
e eu desaconteço)
*
chacina
líria porto
a chuva que chia
encharca os baixios
*
a chuva que chia
encharca os baixios
abre chagas no chão
chicoteia os bichos
:
há queixas nas choças
e peixes no lixo
chicoteia os bichos
:
há queixas nas choças
e peixes no lixo
*
sábado, 5 de dezembro de 2009
fome
líria porto
fileiras de pobres percorrem as ruas
parecem formigas e catam migalhas
:
a vida é morte
quando o pão nos falta
parecem formigas e catam migalhas
:
a vida é morte
quando o pão nos falta
*
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
zinha
líria porto
depois que um moreno
invadiu-lhe o peito
entrou e saiu
levou o que havia
ficou-lhe um sem jeito
um oco oriundo
um tal cataclismo
que ela preenche
igual indigente
com amores de um dia
*
depois que um moreno
invadiu-lhe o peito
entrou e saiu
levou o que havia
ficou-lhe um sem jeito
um oco oriundo
um tal cataclismo
que ela preenche
igual indigente
com amores de um dia
*
(publicado no livro olho nu - ed. patuá) palavras desnecessárias
líria porto
nosso encontro durou
o tempo de uma despedida
se eu pudesse voltar àquele ponto
eu te puxava para um canto
beijava eu te beijava tanto
e pronto
*
nosso encontro durou
o tempo de uma despedida
se eu pudesse voltar àquele ponto
eu te puxava para um canto
beijava eu te beijava tanto
e pronto
*
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
(publicado no livro garimpo - editora lê) - desobediência
líria porto
as margens conduzem os rios
com mãos de ferro
(nem sempre conseguem contê-los)
a sede de liberdade
causa transbordamentos
*
as margens conduzem os rios
com mãos de ferro
(nem sempre conseguem contê-los)
a sede de liberdade
causa transbordamentos
*
entretantos
líria porto
de encontro à chuva
(trombo)
numa gota d'água
(lágrima)
eu me inundo
(lástima)
dói-me a dor do mundo
(cáustica)
*
de encontro à chuva
(trombo)
numa gota d'água
(lágrima)
eu me inundo
(lástima)
dói-me a dor do mundo
(cáustica)
*
à distância
líria porto
numa qualquer parte do teu coração
(se eu a tivesse - a ponta que fosse)
eu plantava um canteiro de saudades
:
flores roxas
*
numa qualquer parte do teu coração
(se eu a tivesse - a ponta que fosse)
eu plantava um canteiro de saudades
:
flores roxas
*
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
.safados
líria porto
a soma do quadrado dos capetas
elevada à milionésima potência
corresponde exatamente à metade
do sexo dos anjos
(eu manjo esses inocentes)
*
a soma do quadrado dos capetas
elevada à milionésima potência
corresponde exatamente à metade
do sexo dos anjos
(eu manjo esses inocentes)
*
cocó
líria porto
tantas jornadas me exaurem
(botar / chocar / cuidar dos pintos)
e no final virar canja
*
tantas jornadas me exaurem
(botar / chocar / cuidar dos pintos)
e no final virar canja
*
zero
líria porto
poeminha mínimo
ínfimas estrofes
tão pequenininho
quanto bala toffee
quando eu o espicho
vira puxa-puxa
jogo-o no lixo
nove noves fora
*
poeminha mínimo
ínfimas estrofes
tão pequenininho
quanto bala toffee
quando eu o espicho
vira puxa-puxa
jogo-o no lixo
nove noves fora
*
limitações
líria porto
a dor escadeira
as pernas as partes
a morte não chega
a vida não basta
não quero não queiras
ser ave sem asas
ser corpo sem alma
sem combustão
*
a dor escadeira
as pernas as partes
a morte não chega
a vida não basta
não quero não queiras
ser ave sem asas
ser corpo sem alma
sem combustão
*
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
apanha coração
líria porto
esquerda canhota
direita toda torta
: quem gosta de centro
é cu
(quase impossível
ter rumo)
*
esquerda canhota
direita toda torta
: quem gosta de centro
é cu
(quase impossível
ter rumo)
*
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nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio
(líria porto)
*
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*
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- bipolar
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