carreguei as tuas penas até me cansarem as asas
e só sosseguei a carcaça depois que as amputei
(não as asas – as tuas penas)
precisei muita coragem pois eu te amava
e era aérea
:
cabeça de borboleta
sai neblina
some da frente dos olhos
deixa-me ver o horizonte
o sol está de saída
a vida a bailar tão distante
os sonhos ainda respingam
ao rés de min_as
com quantas andorinhas se faz uma tarde
com quantas crianças se tece um recreio
com quantos galos renasce a alvorada
com quantas mentiras se formam as dúvidas
com quantas chicotadas se forja um escravo
em quantas curvaturas desfaz-se
uma gueixa?
líria porto afora as lâmpadas dos postes e as estrelas que parecem piscar nenhum movimento as árvores não se mexem e não há ninguém nas ruas posso ouvir meu coração tum tum tum *
camelo no fundo da agulha
desprezo promessas de céu
depois que eu morrer toda ajuda
será comida por vermes
:
desfruto tudo na terra
aqui liquido as faturas