sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

(para o livro sem pecado não tem salvação) moinhos

líria porto

montei dom quixote
enquanto dulcineia alimentava
os porcos

*

pecados capitais e interiores

líria porto

comeu massa comeu queijo
doce creme molho tudo
e teve fome de macho

pecou por gula
e luxúria

*

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

autoestima

líria porto

sou a pessoa que tenho
mesmo assim sem garantia
pois existem aqueles dias
em que sem razão alguma
eu me abandono

*

a lua

líria porto

esperava o sol dormir
virar-se pra o outro canto
depois fugia pra rua
sem alarde –– sem barulho
mergulhar na poça d'água

nuinha

*

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

.poema com alface

líria porto

mulheres espiam casas
homens perseguem mulheres
e ingerem pílulas azuis

houvesse menos desejo
o diabo dormia em paz
e não bebia conhaque

*

covardia

líria porto

como fosse peixe
no ventre da minha mãe
depois rompi o açude
mostrei as asinhas

aventurei-me a voar
águia gavião urubu
(ave de rapina)

mas tive medo de altura
e virei galinha

*


imensidão

líria porto

"maria quando é gota é chuva"
enxurra e rompe as margens
faz tempestade dilúvio
controla trovão
e raio

(maricota tem poder)

*

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

o time

líria porto

mulheres não são bolas
que rolam pra lá e pra cá
dando alegria a moleques

mulheres são jogadoras
marcam gols e cobram
pênaltis

*

descontrole

líria porto

às vezes saio de mim
depois volto –– envergonhada
com cara de tacho

*

haicai

líria porto

no chão vaga-lumes
todas as estrelas brilham
nas noites sem lua

*

na areia

líria porto

minhas pegadas de encontro às tuas
quando se tocaram caminharam juntas
talvez para longe para algum lugar
onde os amores –– para além da morte
sobrevivam

*

domingo, 18 de dezembro de 2016

adolescência

líria porto

namoricos duraram anos
entremeados por outros meninos
que ocuparam o vácuo das ausências
depois dos términos e das brigas

um tal de ficar de mal de ficar de bem
mas lembramo-nos do riso e dos olhos
toda vez que ouvimos blue moon

*

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

globo da morte

líria porto

espelhos redondos me enquadram melhor
eu gosto dos circos dos compassos
só nos picadeiros meu mundo
rola

(na corda bamba
retiro a máscara)

*

cisco

líria porto

não estou à altura do menino
ele me olha de cima e sou
diminuto

*

de vida e morte

líria porto

essa eu largo esse eu levo
essa eu limito esse eu alopro
essa eu enluto

(as mulheres vivem mais
mas não melhor)

*

parceria

líria porto

direitos e deveres iguais
sem quaisquer preconceitos
privilégios ou abusos
de autoridade

e punição aos infratores

*

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

(para o livro sem pecado não tem salvação) cana

líria porto

uns homens me conquistaram
marcaram meus territórios
moraram em meu corpo
fincaram bandeiras

outros vieram a passeio
(turistas)
armaram barracas
conheceram-me os recantos
fizeram alguma lambança
e debandaram

por conta da monocultura
sou terra arrasada

*

o circo

líria porto

forja-se a verdade
co'a matéria das mentiras
a mídia a repeti-la
a transformá-la em fatos
a difundir as intrigas

alguns por ignorância
outros por canalhice
bateram tachos panelas
usaram verde e amarelo
como fosse fantasia

(o país na corda bamba)

*

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

o show

líria porto

o tempo passa qual flecha
segue ligeiro seu rumo
(uns nascem uns morrem)
enquanto o sol e a lua
assistem o espetáculo
de camarote

*

lógico

líria porto

aos netos eu não ensino
com eles é que aprendo
o óbvio que salta aos olhos
de um menino pequeno

*

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

alívio

líria porto

o tempo
se não cura
põe unguento

*

solidão

líria porto

o silêncio responde ao silêncio
e cada qual virado pra seu lado
dialoga co'as paredes

*

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

festas

líria porto

periquita
toma essa taça comigo
sem ti eu não sei se consigo
sentir a acidez o tanino
e depois parar

(sou capaz de beber no gargalo
e dormir na sarjeta)

*

haicai

líria porto

de lá da janela
a espreitar a escuridão
a lua amarela

*

sábado, 10 de dezembro de 2016

fiat lux

líria porto

a poesia
expande-se pelo espaço
engloba todos os astros
(luminosos e iluminados)
flutua no infinito

poeta do universo
deus nem existe

*

ateísta

líria porto

diante do infinito
vai de ateu a agnóstico
porque deus insiste

*

fuxico

líria porto

a aranha –– cheia de dedos
faz rodeio pra tecer a teia

*

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

sereia

líria porto

iara - de casa nova
tem cobertor de orelhas
e dorme em kama sutra

para que o sol penetre
e o vizinho veja-a ao banho
iara não tem cortinas

(não morram de inveja
não percam o juízo
a casa de mãe d'água
é o paraíso)

*

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

.capitu

líria porto

quando chegavas tarde
sabe-se lá de onde
(eu nunca perguntei)
o compadre vinha
fazer-me as honrarias

*

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

golpistas

líria porto

depois de perder nas urnas
de nos puxar o tapete
cutucam com vara curta
atiçam povo e poderes

*

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

autoconhecimento

líria porto

sei que não sei
na verdade eu nunca soube

por mais que tenha tentado
eu mergulhava no raso

e todo eu é profundo

*

ferroadas

líria porto

os poemas sempre chegam
nem sempre bons ou ruins
apenas algo capengas
necessitados de abelhas
que pólen e mel
eles têm

*

sem atrasos

líria porto

ao chegar a minha hora
não me prolonguem a vida
não me adiem a morte
:
eu sempre fui pontual

*

porvir

líria porto

o golpe no golpe
tucanos de toga
tucanos no pódio

onde?
no cu da mãe

*

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

excesso

líria porto

a balança aponta nossas bundas
esfrega-nos às fuças açúcares
e carboidratos

*

panelas na varanda

líria porto

meu povo tem outra cara
os que foram pra avenida
brancos ricos bem nutridos
(os privilegiados)
querem manter as mamatas
as férias em miami –– as contas
na suíça
:
eles pediram o impeachment
e tacam fogo no circo

*

domingo, 4 de dezembro de 2016

declive

líria porto

golpes retrocessos
perdas irreparáveis
o mundo gira ao contrário
com muita velocidade

no final dos tempos
o que seremos nosotros
nossos corpanzis
sem cérebro?

(já fomos dinossauros)

*

centenária

líria porto

guardei a dor na gaveta
dobrada passada a ferro

outra dor apareceu
eu fiz o mesmo com ela

e tantas dores vieram
abarrotaram o armário

com as dores bem cuidadas
mas com desgaste nas peças

eu morrerei
é de velha

*

sábado, 3 de dezembro de 2016

inábil

líria porto

tu te perderias pelas minhas veias
sem jamais tocar-me
o coração

*

inábil

líria porto

eu me perderia pelas tuas veias
sem jamais tocar-te o coração

*

da poesia

líria porto

por onde os versos caminham
por onde tropeçam os poetas

há palavras que são rios
há palavras que são pedras

*

infância

líria porto

amoras pitangas gabirobas
essas frutinhas miúdas
que as crianças adoram
povoam nossas lembranças

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

natalidade

líria porto

no tempo das ceroulas
casais se reproduziam
como coelhos

*

dedicatória

nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio

(líria porto)



*















quem tem pena de passarinho
é passarinho

(líria porto)

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