líria porto
cansado de se repetir
deu um grito pra espantar a raiva
e um tiro longe do ouvido
*
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
extermínio
líria porto
incapaz de matar ratos moscas e baratas
criava sapos cobras e aranhas – fizessem eles
o trabalho sujo
*
incapaz de matar ratos moscas e baratas
criava sapos cobras e aranhas – fizessem eles
o trabalho sujo
*
domingo, 30 de agosto de 2009
trabalheira
líria porto
meu pai vendia feijão e arroz
no armazém de secos e molhados
mamãe cozinhava feijão e arroz
para onze bocas famintas
*
meu pai vendia feijão e arroz
no armazém de secos e molhados
mamãe cozinhava feijão e arroz
para onze bocas famintas
*
sherloc
líria porto
o corpo do gato estirado no asfalto
sem nenhuma das suas sete vidas
é prova cabal do múltiplo
assassinato
*
o corpo do gato estirado no asfalto
sem nenhuma das suas sete vidas
é prova cabal do múltiplo
assassinato
*
aquela mulher
líria porto
mãos frias olhos vagos
rosto encovado soluços
perambula pelas ruas
pelos becos parques praças
vai a orfanatos conventos
asilos esquinas
presídios
s
o
l
i
d
ã
o
tem companhia
*
mãos frias olhos vagos
rosto encovado soluços
perambula pelas ruas
pelos becos parques praças
vai a orfanatos conventos
asilos esquinas
presídios
s
o
l
i
d
ã
o
tem companhia
*
favor
líria porto
acerto tudo - do primeiro ao último centavo
: custoso é pagar o que não tem preço
*
acerto tudo - do primeiro ao último centavo
: custoso é pagar o que não tem preço
*
intimidade
líria porto
passa a roupa
avesso direito frente costas
gola barra cós
ele vem abraça-a por trás
faz-lhe cócegas amarrota
tudo
dão risadas
passa a roupa
avesso direito frente costas
gola barra cós
ele vem abraça-a por trás
faz-lhe cócegas amarrota
tudo
dão risadas
*
supremacia
líria porto
desde que nasci toureio a morte
ela não desiste e eu prossigo
um dia quando a infame me quedar
dir-lhe-ei –– eu te venci
cansei-me de viver
aqui não fico
*
desde que nasci toureio a morte
ela não desiste e eu prossigo
um dia quando a infame me quedar
dir-lhe-ei –– eu te venci
cansei-me de viver
aqui não fico
*
sábado, 29 de agosto de 2009
insensíveis
líria porto
o pensamento ferve
borbulha como lava
minhoca na pedra
finge dormir
quase funde o cérebro
mas ninguém percebe
*
o pensamento ferve
borbulha como lava
minhoca na pedra
finge dormir
quase funde o cérebro
mas ninguém percebe
*
cafundó
líria porto
passarinho passaroco
no oco do mundo
afundo-me pelos cantos
nu recanto da poesia
desde que nasci
saci desengonçado
atado às raízes
*
passarinho passaroco
no oco do mundo
afundo-me pelos cantos
nu recanto da poesia
desde que nasci
saci desengonçado
atado às raízes
*
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
instabilidade
líria porto
dentro de nós mora um anjo
e também um diabinho
é um tal de puxa empurra
puro desequilíbrio
*
dentro de nós mora um anjo
e também um diabinho
é um tal de puxa empurra
puro desequilíbrio
*
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
amarela
líria porto
linda flor caiu do galho
girou –– bailarina –– girou
e ao tocar o asfalto
virou purpurina
*
linda flor caiu do galho
girou –– bailarina –– girou
e ao tocar o asfalto
virou purpurina
*
ébano
líria porto
quando eu nascer outra vez
quero ser negra retinta
e os meus cabelos crespos
deixá-los à carapinha
brancos só mesmo os dentes
e nos olhos azeviche
carregar a minha áfrica
seu sol ardente sua púrpura
quando eu nascer outra vez
vou dançar com o meu povo
no compasso do batuque
e dentro da pele quente
conduzir-me à altura
da cor e da raça esplêndidas
da beleza de ser gente
no coração –– na estatura
*
quando eu nascer outra vez
quero ser negra retinta
e os meus cabelos crespos
deixá-los à carapinha
brancos só mesmo os dentes
e nos olhos azeviche
carregar a minha áfrica
seu sol ardente sua púrpura
quando eu nascer outra vez
vou dançar com o meu povo
no compasso do batuque
e dentro da pele quente
conduzir-me à altura
da cor e da raça esplêndidas
da beleza de ser gente
no coração –– na estatura
*
cuidado
líria porto
o diabo já foi anjo
conhece os caminhos do céu
e sabe como ninguém
fingir-se santo
*
o diabo já foi anjo
conhece os caminhos do céu
e sabe como ninguém
fingir-se santo
*
pau do cerrado
líria porto
segredos do vento
de sopro e assovio
ninguém os decifra
nem nós que nascemos
em ventania
de terras tão planas
de galhas torcidas
ao vir pras montanhas
eu trouxe e te entrego
o sal da saliva
*
segredos do vento
de sopro e assovio
ninguém os decifra
nem nós que nascemos
em ventania
de terras tão planas
de galhas torcidas
ao vir pras montanhas
eu trouxe e te entrego
o sal da saliva
*
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
(publicado no livro olho nu - ed. patuá) amélia
líria porto
ficava lá disponível
limpa macia perfumada
igual blusa no cabide
ele vinha usava-a
voltava-se para a parede
dormia
partia pela manhã
(foi visto no shopping
de roupa nova)
*
ficava lá disponível
limpa macia perfumada
igual blusa no cabide
ele vinha usava-a
voltava-se para a parede
dormia
partia pela manhã
(foi visto no shopping
de roupa nova)
*
terça-feira, 25 de agosto de 2009
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
es_fera
líria porto
quem dera a terra
rodasse para o outro lado
e pudéssemos retornar
ao ponto de partida
a infância
é um templo
lindo
*
quem dera a terra
rodasse para o outro lado
e pudéssemos retornar
ao ponto de partida
a infância
é um templo
lindo
*
os miseráveis
líria porto
quem janta sua fome espanta
jante mal ou jante bem
terrível é quem não janta
e não almoça
e não tem
*
quem janta sua fome espanta
jante mal ou jante bem
terrível é quem não janta
e não almoça
e não tem
*
de mau a pior
líria porto
o sol sobre o olho
o sal sobre o molho
o mal sobre o bem
o tal do olho gordo
o estorvo o atrapalho
o dente de alho
na boca de alguém
*
o sol sobre o olho
o sal sobre o molho
o mal sobre o bem
o tal do olho gordo
o estorvo o atrapalho
o dente de alho
na boca de alguém
*
neblina
líria porto
como um cachorro que não abana o rabo
ou um passarinho de asas quebradas
sem ti o mundo todo se embaça
sem lua e sem azul
*
como um cachorro que não abana o rabo
ou um passarinho de asas quebradas
sem ti o mundo todo se embaça
sem lua e sem azul
*
domingo, 23 de agosto de 2009
pasmos
líria porto
entre velho e novo
um ser boquiaberto
sem saber ao certo
se foi a galinha
ou o ovo
entre certo e errado
um nunca satisfeito
um sempre sistemático
truncado pelo meio
sem arremate
entre muito e pouco
um sujeito rouco
a pedir um cado
entre um e outro
nada nada
nada
nabo
*
entre velho e novo
um ser boquiaberto
sem saber ao certo
se foi a galinha
ou o ovo
entre certo e errado
um nunca satisfeito
um sempre sistemático
truncado pelo meio
sem arremate
entre muito e pouco
um sujeito rouco
a pedir um cado
entre um e outro
nada nada
nada
nabo
*
fósseis
líria porto
paixões e amores acabam
perecem evaporam-se
muita vez não sobra coalho
nenhuma atitude dócil
lembramo-nos dos que amávamos
somente em detalhes sórdidos
e sequer consideramos
quão fomos intolerantes
inóspitos
ignóbeis
*
paixões e amores acabam
perecem evaporam-se
muita vez não sobra coalho
nenhuma atitude dócil
lembramo-nos dos que amávamos
somente em detalhes sórdidos
e sequer consideramos
quão fomos intolerantes
inóspitos
ignóbeis
*
pega
líria porto
não entendo tua pressa
mal fizeste vinte anos
de tudo pouco conheces
nem tristezas nem espantos
não corras tanto menino
vai devagar ri um pouco
aproveita tuas f(r)estas
olha as flores ouve o canto
a idade um dia pesa
os olhos murcham e o pranto
inundará duas pistas
não te aceleres –– o tempo
é bem maior que a avenida
) vruuuummmmmm (
espera guri espera
tenho presentes comigo
um bombom um salto um grilo
quero te dar castanhas
ensinar-te minhas manhas
olhares além do umbigo
*
não entendo tua pressa
mal fizeste vinte anos
de tudo pouco conheces
nem tristezas nem espantos
não corras tanto menino
vai devagar ri um pouco
aproveita tuas f(r)estas
olha as flores ouve o canto
a idade um dia pesa
os olhos murcham e o pranto
inundará duas pistas
não te aceleres –– o tempo
é bem maior que a avenida
) vruuuummmmmm (
espera guri espera
tenho presentes comigo
um bombom um salto um grilo
quero te dar castanhas
ensinar-te minhas manhas
olhares além do umbigo
*
eutanásia
líria porto
abandono descuido desprezo
condenaram o amor à morte lenta
) procura-se um cúmplice – um companheiro
capaz de desligar o aparelho (
*
sábado, 22 de agosto de 2009
arrupio
líria porto
vento varre
vai dum lado doutro
doutro
junta cisco
dá uns sopros
tenho medo dos diabos
desses redemunhos
*
vento varre
vai dum lado doutro
doutro
junta cisco
dá uns sopros
tenho medo dos diabos
desses redemunhos
*
brevê
líria porto
vem o dia vem a noite
esta estafa deixa a alma
amarrotada
vaca amarela pulou a janela
quem morrer morreu
ela ele ou eu
) a vida pasta (
*
vem o dia vem a noite
esta estafa deixa a alma
amarrotada
vaca amarela pulou a janela
quem morrer morreu
ela ele ou eu
) a vida pasta (
*
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
putinha
liria porto
na entrega do produto
a lua tudo fazia para o sol
não ficar puto
) e via estrelas (
*
na entrega do produto
a lua tudo fazia para o sol
não ficar puto
) e via estrelas (
*
bolhas
líria porto
ele pensava nela
e ela pensava
na morte da bezerra
quem acha que acerta
erra redondamente
*
ele pensava nela
e ela pensava
na morte da bezerra
quem acha que acerta
erra redondamente
*
virgem santa
líria porto
vão precisar de um bravo
para exercer tal façanha
o mato cresce e tem onça
entre as pernas dessa aranha
*
vão precisar de um bravo
para exercer tal façanha
o mato cresce e tem onça
entre as pernas dessa aranha
*
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
cartas
líria porto
palavras silenciosas
fechadas em envelopes
troam como tambores
levam para as pessoas
notícias boas
piores
*
palavras silenciosas
fechadas em envelopes
troam como tambores
levam para as pessoas
notícias boas
piores
*
diferenças
líria porto
aquele que nos leva
a fazer com alegria
todas as tarefas
é líder
o fracote
a nos sujigar
a usar chicote
é chefe
*
aquele que nos leva
a fazer com alegria
todas as tarefas
é líder
o fracote
a nos sujigar
a usar chicote
é chefe
*
gerações
líria porto
derrubar a parede
alargar o corredor
permitir que a luz se adentre
mudar o lugar das sombras
aprender - a experiência
dos ancestrais é inócua
*
derrubar a parede
alargar o corredor
permitir que a luz se adentre
mudar o lugar das sombras
aprender - a experiência
dos ancestrais é inócua
*
sábado, 15 de agosto de 2009
pós choro
líria porto
(c)alma voltou - veio mansa
acomodou-se no canto
aproximou-se aos poucos
acalentou-me
fez-me dormir
qual criança
*
consideração
líria porto
lavou o corpo da morta
com água morna
a velha não gostaria
de banhar-se em água fria
*
lavou o corpo da morta
com água morna
a velha não gostaria
de banhar-se em água fria
*
disfarce
líria porto
debaixo da capa a culpa
as emoções proibidas
as marcas de batom
(e as manchas roxas
nas coxas)
*
debaixo da capa a culpa
as emoções proibidas
as marcas de batom
(e as manchas roxas
nas coxas)
*
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
mundos e fundos
líria porto
olhos fechados corpo quieto
sem mover um músculo
e o pensamento solto
a recordar planejar imaginar
ninguém sabe a extensão
dos sonhos
*
olhos fechados corpo quieto
sem mover um músculo
e o pensamento solto
a recordar planejar imaginar
ninguém sabe a extensão
dos sonhos
*
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
colcha de retalhos
líria porto
ao doarmos órgãos
somos recicláveis
e não descartados
como lixo humano
*
ao doarmos órgãos
somos recicláveis
e não descartados
como lixo humano
*
terça-feira, 11 de agosto de 2009
tantã
líria porto
forte como a pétala
fraca como a muralha
tenho cílios de arco-íris
alma de batata-palha
*
forte como a pétala
fraca como a muralha
tenho cílios de arco-íris
alma de batata-palha
*
(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - ganidos
líria porto
finquei todo meu desejo
no branco lençol do leito
deitei-me só e de borco
e assim eu em decúbito
abraçada ao travesseiro
farejava o teu cheiro
qual um cachorro
meu corpo de tanta ânsia
derramava a substância
advinda do meu cio
as lágrimas me afogavam
afundavam-me em areia
movediça
a fresta entre minhas pernas
jogadas de qualquer jeito
abrigava a rejeição
as ausências repetidas
das vezes que te chamei
sem retorno
não vieste não virás
e o vão do meu umbigo
a ganir nos teus ouvidos
não te deixará
*
finquei todo meu desejo
no branco lençol do leito
deitei-me só e de borco
e assim eu em decúbito
abraçada ao travesseiro
farejava o teu cheiro
qual um cachorro
meu corpo de tanta ânsia
derramava a substância
advinda do meu cio
as lágrimas me afogavam
afundavam-me em areia
movediça
a fresta entre minhas pernas
jogadas de qualquer jeito
abrigava a rejeição
as ausências repetidas
das vezes que te chamei
sem retorno
não vieste não virás
e o vão do meu umbigo
a ganir nos teus ouvidos
não te deixará
*
ruindade
líria porto
a dor sem entranha montava-lhe as costas
fincava o ferrão a espora o chicote
galopa galopa galopa
o pobre ancião já sem forças gemia
eu não posso eu não posso
eu n ã o p o s s o
deus e o diabo
espiavam
(sem dó)
*
a dor sem entranha montava-lhe as costas
fincava o ferrão a espora o chicote
galopa galopa galopa
o pobre ancião já sem forças gemia
eu não posso eu não posso
eu n ã o p o s s o
deus e o diabo
espiavam
(sem dó)
*
(publicado em cadela prateada - ed. penalux) - fôlego
líria porto
quando nasci
não tinha anjo disponível
então um diabinho com um tridente
espetou a minha bunda e disse – vai
cai na vida
não tens outra saída
*
quando nasci
não tinha anjo disponível
então um diabinho com um tridente
espetou a minha bunda e disse – vai
cai na vida
não tens outra saída
*
conto de bruxa
líria porto
era uma vez acredite
uma criança mirrada
espertinha pá-virada
que nasceu lá no planalto
malcriada topetuda
não queria ser rainha
e de longe admirava
quem freios também não tinha
parecida com o pai
a origem não negava
sua língua era ferina
suas unhas afiadas
os olhos de folha seca
cor acanhada mortiça
disfarçavam muito bem
os desperdícios da alma
dos filhos a mais feiosa
doentinha magricela
crescia a erva daninha
sem nenhuma contenção
junto ia o coração
que pendia para o lado
onde o fraco se rendia
onde a corda rebentava
já adulta pobre moço
aquele que a amou
pois com tanta rebeldia
nem a casa ela varria
não julgava obrigação
essa doida era varrida
ficava puta da vida
explodia-se ao fogão
branquearam-se os cabelos
de vermelho se coraram
e um brilho se instalou
mudou então seu olhar
assumiu sua loucura
acendeu o caldeirão
e em fogo muito brando
cozinhou-se com_paixão
hoje voa vaga flutua
tricota faz doce cose
vira a noite pelo dia
sua alma não encolhe
pois ela ainda acredita
montada numa vassoura
que pode mudar o mundo
ser avó feliz –– e doida
*
era uma vez acredite
uma criança mirrada
espertinha pá-virada
que nasceu lá no planalto
malcriada topetuda
não queria ser rainha
e de longe admirava
quem freios também não tinha
parecida com o pai
a origem não negava
sua língua era ferina
suas unhas afiadas
os olhos de folha seca
cor acanhada mortiça
disfarçavam muito bem
os desperdícios da alma
dos filhos a mais feiosa
doentinha magricela
crescia a erva daninha
sem nenhuma contenção
junto ia o coração
que pendia para o lado
onde o fraco se rendia
onde a corda rebentava
já adulta pobre moço
aquele que a amou
pois com tanta rebeldia
nem a casa ela varria
não julgava obrigação
essa doida era varrida
ficava puta da vida
explodia-se ao fogão
branquearam-se os cabelos
de vermelho se coraram
e um brilho se instalou
mudou então seu olhar
assumiu sua loucura
acendeu o caldeirão
e em fogo muito brando
cozinhou-se com_paixão
hoje voa vaga flutua
tricota faz doce cose
vira a noite pelo dia
sua alma não encolhe
pois ela ainda acredita
montada numa vassoura
que pode mudar o mundo
ser avó feliz –– e doida
*
deslírio
líria porto
de manhã vejo no céu
uma lua de papel
escrevo nela meu verso
pra dizer ao universo
ô rima besta
*
de manhã vejo no céu
uma lua de papel
escrevo nela meu verso
pra dizer ao universo
ô rima besta
*
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
caranguejo
líria porto
não quero saber de ti
nem hoje nem nunca mais
mas é bom te prevenir
se vieres por aqui
eu volto atrás
*
não quero saber de ti
nem hoje nem nunca mais
mas é bom te prevenir
se vieres por aqui
eu volto atrás
*
decrépita
líria porto
minh'alma velha de guerra
emaranhada no corpo
atada dentro das vestes
parece que nesse inverno
desistiu dos voos
não cria nada que preste
merece_dor
*
minh'alma velha de guerra
emaranhada no corpo
atada dentro das vestes
parece que nesse inverno
desistiu dos voos
não cria nada que preste
merece_dor
*
domingo, 9 de agosto de 2009
(publicado no livro olho nu - ed. patuá) caldo
líria porto
eu mordia a boca dele
sabia a peçonha na língua
lambia e bebia a saliva
era para engolir ele
morrer dele
do adocicado da víbora
*
eu mordia a boca dele
sabia a peçonha na língua
lambia e bebia a saliva
era para engolir ele
morrer dele
do adocicado da víbora
*
a_deuses
líria porto
subo e desço a serra
de um lado e doutro
os ipês me acenam
amarelos loucos
é só vir a chuva
é só vir o vento
já é quase agosto
*
subo e desço a serra
de um lado e doutro
os ipês me acenam
amarelos loucos
é só vir a chuva
é só vir o vento
já é quase agosto
*
precisão
líria porto
um cadinho do teu corpo
um borrifo do sorriso
qual a terra quando chove
ou o galo o passarinho
ao nascer do sol
um borrifo do sorriso
qual a terra quando chove
ou o galo o passarinho
ao nascer do sol
*
sábado, 8 de agosto de 2009
atração
líria porto
são joão tão bonito
naquela bandeira
e eu tão aflita
entrei na fogueira
a vida era boa
tirei tal proveito
subi no seu colo
deitei no seu leito
queria um beijo
o primeiro da fila
dos seus olhos verdes
bebi clorofila
agora meu santo
não sei de mais nada
paixão é veneno
caixão e mortalha
*
são joão tão bonito
naquela bandeira
e eu tão aflita
entrei na fogueira
a vida era boa
tirei tal proveito
subi no seu colo
deitei no seu leito
queria um beijo
o primeiro da fila
dos seus olhos verdes
bebi clorofila
agora meu santo
não sei de mais nada
paixão é veneno
caixão e mortalha
*
poliglota
líria porto
inglesa francesa espanhola portuguesa
pouco importa - queria era beijo
de língua
*
inglesa francesa espanhola portuguesa
pouco importa - queria era beijo
de língua
*
nevoeiro
líria porto
pântano lamaçal areia movediça
e a preguiça de acender o sol
de beber à superfície
*
pântano lamaçal areia movediça
e a preguiça de acender o sol
de beber à superfície
*
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
oh
líria porto
mudar de casa ou de vida
livrar-nos das velharias
dos badulaques e tralhas
requer mais do que dinheiro
estrutura analista
ou paciência
de jó
é preciso sobretudo
ter-se um saco
de filó
*
mudar de casa ou de vida
livrar-nos das velharias
dos badulaques e tralhas
requer mais do que dinheiro
estrutura analista
ou paciência
de jó
é preciso sobretudo
ter-se um saco
de filó
*
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
adelice
líria porto
a doida da nossa infância
entrava / saía pulava a janela
a doida da nossa infância
entrava / saía pulava a janela
falava sozinha
comia com os gatos
comia com os gatos
xingava os moleques
sacudia os ombros
morreu em barbacena
no chá da meia-noite
*
sacudia os ombros
morreu em barbacena
no chá da meia-noite
*
sujeito a adjetivos
líria porto
bonito era meu avô
aqueles bigodes fartos
barriga proeminente
pelos grisalhos
olhar substantivo
*
bonito era meu avô
aqueles bigodes fartos
barriga proeminente
pelos grisalhos
olhar substantivo
*
preguiça
líria porto
não há como recuperar oportunidades
momentos e talentos negligenciados
atirados à vala das coisas
imprestáveis
*
não há como recuperar oportunidades
momentos e talentos negligenciados
atirados à vala das coisas
imprestáveis
*
terça-feira, 4 de agosto de 2009
domingo, 2 de agosto de 2009
per secula seculorum
líria porto
tornei-me o invólucro da tua boca
sou eu o teu beijo permanente
ao beijares outras bocas
beija-as sôfrego
estarás a beijar-me como louco
em todos os sabores
e indecências
*
tornei-me o invólucro da tua boca
sou eu o teu beijo permanente
ao beijares outras bocas
beija-as sôfrego
estarás a beijar-me como louco
em todos os sabores
e indecências
*
aclamação
líria porto
quem pudesse ver e visse
a elegância de clarice
poderia adivinhar
em seus pés
as sapatilhas
ágil como uma corça
esguia igual espiga
quando clarice gira
deus do céu
virgem santíssima
*
quem pudesse ver e visse
a elegância de clarice
poderia adivinhar
em seus pés
as sapatilhas
ágil como uma corça
esguia igual espiga
quando clarice gira
deus do céu
virgem santíssima
*
sábado, 1 de agosto de 2009
viuvez
líria porto
vestir-se internamente de sem cor
minguar-se à penúltima gota
e se um dia houver forças
reviver
*
vestir-se internamente de sem cor
minguar-se à penúltima gota
e se um dia houver forças
reviver
*
malabares
líria porto
) palavras seduzem-me
fascinam-me (
faço malabarismos brinco
jogo-me (con)sigo-as
não há como me sentir sozinha
nesta companhia
) sem lapso
nem papelão (
por estas e outras eu sofro
por festas e ostras prossigo
quem quer vinho venha
às brenhas da bruma
) tenha risos motivos
borbulhas (
*
) palavras seduzem-me
fascinam-me (
faço malabarismos brinco
jogo-me (con)sigo-as
não há como me sentir sozinha
nesta companhia
) sem lapso
nem papelão (
por estas e outras eu sofro
por festas e ostras prossigo
quem quer vinho venha
às brenhas da bruma
) tenha risos motivos
borbulhas (
*
bip.o_lar
líria porto
abismo intransponível
entre alma e corpo
agarrou-se às asas do amor
salvou-se do inferno
e dos transtornos
*
abismo intransponível
entre alma e corpo
agarrou-se às asas do amor
salvou-se do inferno
e dos transtornos
*
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dedicatória
nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio
(líria porto)
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fiamos o plenilúnio
(líria porto)
*
quem tem pena de passarinho
é passarinho
(líria porto)

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