vou dançar a valsa com a minha filha
eu fui mãe e pai – um trabalho duro
mantive-a na escola foi pra faculdade
sinto muito orgulho e não admito
que alguém ausente venha para a festa
e cante de galo
ouço o que têm a dizer
procuro saber quem são
sua história a coerência
onde estão onde estiveram
com quem andam
mudam ou não de posição
pulam de galho em galho
têm caráter têm preparo?
o burguezinho de merda
que vive em cada ser
é melhor envenená-lo
deixá-lo morrer à míngua
para renascer o homem
que não aceite injustiça
que não queira só pra si
as riquezas as belezas
as coisas boas
que existam
sem um amor sem o outro
a vida murcha
urge-lhe arranjar mais um
(seja o último)
um que lhe banhe o corpo
leve-o ao sepulcro
por ele se vista de luto
jogue-lhe a última flor
herde os seus acúmulos
eu gosto da claridade
de saber por onde piso
de ver quem anda do lado
de ajudar quem precisa
de também ser ajudada
de sentir que nesta vida
podemos ir de mãos dadas
sem temer
quem tem as mãos calejadas
sabe das dificuldades
que é preparar a terra
escolher boas sementes
plantá-las regá-las
exterminar toda a praga
retirar os parasitas
esperar a chuva o sol
o tempo da colheita
deitado na rede é fácil
torcer o nariz apontar
dizer - sou o novo
o milagre
fechem os olhos
confiem
eu sou o iluminado