quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ascensão

líria porto

as alegrias postiças
jamais se sentira gente
foi só dor e sujeição
e o filho do patrão
pôs-lhe um filho na barriga
(o menino não vingou)

ela nasceu no sertão
naquela sede de tudo
coração esfarinhado
o chão era pai e mãe
e a terra seca sem viço
sua cama seu colchão

seu corpo virou moeda
moído na mão de todos
fosse qual fosse o macho
os direitos sobre ela
trocavam-na por qualquer troco
partiam sem despedidas

nessa sorte sem fortuna
o seu corpo definhou
virou pele sobre ossos
nem freguês e nem comida
desgostou-se de tal fado
foi ser feliz lá em cima

agora maria brilha
o seu espelho é a lua
o travesseiro uma nuvem
ficou linda como nunca
a estrela mais bonita
das que enfeitam a noite

*

4 comentários:

Cláudia Magalhães disse...

Parabéns Líria, pelo blog e pelos belos poemas!

Abraço
Cláudia

Wilson Torres Nanini disse...

Que poema! Ele reforça o que penso: que, às vezes, temos uma música monossilábica por dentro, pois o coração é tão desfiladeiro...

Moacy Cirne disse...

as alegrias postiças
não se esgotam
em formas inteiriças
e se ela, aflita,
nasceu no sertão
vive com paixão
mesmo que seu corpo
seja moeda de troca
em alegrias mórbidas.

/um beijo/

BAR DO BARDO disse...

lira
tarja preta

dedicatória

nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio

(líria porto)



*















quem tem pena de passarinho
é passarinho

(líria porto)

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