terça-feira, 27 de abril de 2021

carbono

líria porto


insatisfeita com o espelho
suzy operou o nariz
pôs silicone nos peitos
e virou clone
da barbie

*

quinta-feira, 22 de abril de 2021

inércia

líria porto

esse corpo que governo
nem sempre obediente
muita vez ele esmorece
adoece fica lento
e além do mais
ficou velho
:
valha-me céu

*

dis-se-ca-ção

líria porto


meu lado íntegro
o esquerdo
onde guardo o coração
o olho que melhor vê
os bons sentimentos
(sou canhota de nascença)

à direita
faltam-me o rim
a vesícula
o apêndice
e é a facção do fígado
(ódios e amarguras)
sem falar da cicatriz
no nervo ótico

o nariz
a boca
o umbigo
o ânus
o sexo
:
nem de longe
o centro
é neutro

*

estrago

líria porto

virou cópia de carbono
depois que trocou o nariz
pôs peitos de silicone

*

mineira

líria porto


toda vez que andei na linha
um trem me atropelou

*

rebuliços

líria porto

tive uns casos
e muitos caos

distância

líria porto


na fogueira das vaidades
quem entra sai chamuscado

*

comparação

líria porto

como impressão digital
não existe um pau
igual o outro

*

escriba

líria porto

escravo da escrita
descubro que escrevo
dentro sobre e debaixo
dos próprios escombros

domingo, 18 de abril de 2021

exaustão

líria porto


é que a flor - no limite
exala todo o perfume
e despetala

* 

pomar

líria porto

quando eu me tornar húmus
tomara meus netos já sejam
árvores frutíferas

*

shirley

líria porto


ao achar a vida chata
tomou uma chuveirada
fez uns cachos no cabelo
passou perfume channel
tirou o chapéu da caixa
pôs um xale sobre os ombros
calçou os chinelos roxos
sentou no sofá da sala
e viu tevê

*


quarta-feira, 14 de abril de 2021

pontiagudas

líria porto


as minhas rimas internas
despencam dos meus orifícios
espetam-me dentro das pernas
tais como espinhos de ouriço

*

donana

líria porto


senhora vetusta
cabelos de prata
não esconde as rugas
e sua risada
ilumina o escuro
a indicar o rumo
tal qual fosse a lua
em noite estrelada

*

terça-feira, 6 de abril de 2021

taras

líria porto


sonhei com isso e aquilo
com quem não via há séculos
eu tinha um trator vermelho
mas não arava o destino
desse chão de cemitério

os mortos vagavam vivos
os vivos adoeciam
e eu procurava a trilha
alguma estrada ou desvio
ficava sem combustível

era sete de setembro

*

taras

líria porto

não bebo não fumo
meus vícios tão outros

são queijos açúcares
palavras escritas

e os beijos
na boca

*

segunda-feira, 5 de abril de 2021

gumes

líria porto

há duas coisas
o vírus que pode nos matar
e o medo que me consome
num caso e noutro
fico em casa

*

alzheimer

líria porto


se eu tiver que esquecer
precisar existir sem lembranças
melhor eu partir muito antes
que vagar qual fantasma
e estar vivo

*

pré-históricos

líria porto


noutras eras
quando eras naendertal e eu meio fera
arrastavas-me pra caverna pelos pelos
eu puxava teus cabelos e sobre as pedras
urrávamos tu e eu
de ódio
e gozo
*

dedicatória

nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio

(líria porto)



*















quem tem pena de passarinho
é passarinho

(líria porto)

Arquivo do blog