líria porto
venho sempre à janela
decorar a paisagem
se um dia eu ficar cega
a escuridão terá árvores
e borboletas
*
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
concha
líria porto
debaixo das cobertas como num útero
abraço-o encolho as pernas e durmo
com um anjo adúltero
*
debaixo das cobertas como num útero
abraço-o encolho as pernas e durmo
com um anjo adúltero
*
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
terça-feira, 27 de setembro de 2011
perfeição
líria porto
quem traçou a lua
na tela do céu de ontem
usou compasso e textura
era lua de mel?
*
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
domingo, 25 de setembro de 2011
don'ana
líria porto
só um nome pequenino
sara ou ana ou lia –– um nome bíblico
caberia num ser de tal simplicidade
sua sabedoria
não se antecipar às perguntas
manifestar-se em palavras precisas
inevitáveis
silenciar-se
*
só um nome pequenino
sara ou ana ou lia –– um nome bíblico
caberia num ser de tal simplicidade
sua sabedoria
não se antecipar às perguntas
manifestar-se em palavras precisas
inevitáveis
silenciar-se
*
sanfona
líria porto
desconhece as bordas
esbarra em tudo quanto
e se o canto desafina
alarga a estampa
)
desconhece as bordas
esbarra em tudo quanto
e se o canto desafina
alarga a estampa
)
entre azul e roxo
o tom cambiante do hematoma
a dor concentrada no
desencontro
:
o palavrão furta-cor
(
*
o tom cambiante do hematoma
a dor concentrada no
desencontro
:
o palavrão furta-cor
(
*
sábado, 24 de setembro de 2011
ermo
líria porto
falar com quem se o marido
é homem muito ocu(l)pado
os filhos têm compromisso
vizinhos fecham a cara
amigos são egoístas
o cão foi atropelado
os netos não param em casa
o espelho envelheceu
e não há hora marcada
com o analista
*
falar com quem se o marido
é homem muito ocu(l)pado
os filhos têm compromisso
vizinhos fecham a cara
amigos são egoístas
o cão foi atropelado
os netos não param em casa
o espelho envelheceu
e não há hora marcada
com o analista
*
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
(publicado no livro olho nu - ed. patuá) provocação
líria porto
a violar tua reza
dedilhar a tua fé
conferir a ladainha
(não acredito em deus)
repisar missa e rosário
mastigo hóstias e sinto
gosto de farinha
*
a violar tua reza
dedilhar a tua fé
conferir a ladainha
(não acredito em deus)
repisar missa e rosário
mastigo hóstias e sinto
gosto de farinha
*
luxúria
líria porto
ave marina
plena de entrega
o amor é contigo
bendita sejas
entre as mulheres
bandida é a fruta
entre teu ventre
e tuas pernas
*
ave marina
plena de entrega
o amor é contigo
bendita sejas
entre as mulheres
bandida é a fruta
entre teu ventre
e tuas pernas
*
(publicado no livro olho nu - ed. patuá) lavação
líria porto
a quarar sobre a cama
esperava que a alma clareasse
e pecava pecava
pecava
(a quarar sobre a grama
a fama o tatame)
depois ia ao confessionário
*
a quarar sobre a cama
esperava que a alma clareasse
e pecava pecava
pecava
(a quarar sobre a grama
a fama o tatame)
depois ia ao confessionário
*
explicação
líria porto
a palavra me encolhe eu não mando
então quando eu falo uma bosta
ela mesma me estorna - a tacanha
*
a palavra me encolhe eu não mando
então quando eu falo uma bosta
ela mesma me estorna - a tacanha
*
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
terça-feira, 20 de setembro de 2011
chantagens
líria porto
o medo nos faz reféns
de sanguessugas lacraias
que bebem em nossas veias
alimentam-se da nossa carne
vestem-se com nossa pele
utilizam-se dos nossos ossos
para palitar os dentes
*
o medo nos faz reféns
de sanguessugas lacraias
que bebem em nossas veias
alimentam-se da nossa carne
vestem-se com nossa pele
utilizam-se dos nossos ossos
para palitar os dentes
*
micros
líria porto
invisíveis
insignificantes
derrubam corpanzis
atiram-nos ao tatame
demonstram que tamanho
não são garantia
:
bactérias agem
mais do que capazes
obstruem tudo
e vírus atacam
têm toxinas
vencem-nos na guerra
*
invisíveis
insignificantes
derrubam corpanzis
atiram-nos ao tatame
demonstram que tamanho
não são garantia
:
bactérias agem
mais do que capazes
obstruem tudo
e vírus atacam
têm toxinas
vencem-nos na guerra
*
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
inglória
líria porto
aposto comigo e perco
fico furiosa – como se as pétalas
perdessem para os espinhos
*
aposto comigo e perco
fico furiosa – como se as pétalas
perdessem para os espinhos
*
domingo, 18 de setembro de 2011
(para o livro sem pecado não tem salvação) abstrações
líria porto
marília marlene nem sei
na hora do amor
chamava outro nome
eu não me importava
pensava noutro homem
e assim prosseguíamos
(dois em quatro)
nos braços e abraços
das metades
*
marília marlene nem sei
na hora do amor
chamava outro nome
eu não me importava
pensava noutro homem
e assim prosseguíamos
(dois em quatro)
nos braços e abraços
das metades
*
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
espantalho
líria porto
não tenho mar não tenho rio
e nem lagoa enxurrada ou copo d'água
tenho mesmo é esse jeito de ser_tão
essa secura essa aridez
esse bagaço
*
não tenho mar não tenho rio
e nem lagoa enxurrada ou copo d'água
tenho mesmo é esse jeito de ser_tão
essa secura essa aridez
esse bagaço
*
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
de dar água na boca
líria porto
sobre o bolo recém-saído do forno
a fina camada de manteiga açúcar e canela
e a voz da minha mãe
:
venham meninos venham –– hoje tem
viúva alegre
sobre o bolo recém-saído do forno
a fina camada de manteiga açúcar e canela
e a voz da minha mãe
:
venham meninos venham –– hoje tem
viúva alegre
*
terça-feira, 13 de setembro de 2011
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
corujar
líria porto
as fitas do arco-íris as folhas do buriti
as pétalas da margarida as asas da joaninha
as cores da borboleta o voo do beija-flor
o olhar do francisquinho o sorriso
da maria
*
as fitas do arco-íris as folhas do buriti
as pétalas da margarida as asas da joaninha
as cores da borboleta o voo do beija-flor
o olhar do francisquinho o sorriso
da maria
*
guia (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)
líria porto
pé limpo foi com pé sujo
descobrir caminhos
não sabia dos espinhos
nem dos pedregulhos
deu uns pulos sentiu dor
mas pé sujo lhe ensinou
não chores nem fiques triste
com o tempo o couro engrossa
e viver aqui no mundo
é para os fortes
*
pé limpo foi com pé sujo
descobrir caminhos
não sabia dos espinhos
nem dos pedregulhos
deu uns pulos sentiu dor
mas pé sujo lhe ensinou
não chores nem fiques triste
com o tempo o couro engrossa
e viver aqui no mundo
é para os fortes
*
despoema
líria porto
a caneta
não escreve
os segredos
eu não conto
tudo é breve
grave greve
faz de conta
*
a caneta
não escreve
os segredos
eu não conto
tudo é breve
grave greve
faz de conta
*
sábado, 10 de setembro de 2011
irreconhecível (quem tem pena de passarinho - ed. periópolis)
líria porto
eu tinha uma canoa –– minha
boa
com ela atravessava o rio
ria
ia
beirava o horizonte
e debaixo do arco-íris
virava homem
:
a barba crescia eu voltava
bebia com os pescadores
contava vantagem
*
eu tinha uma canoa –– minha
boa
com ela atravessava o rio
ria
ia
beirava o horizonte
e debaixo do arco-íris
virava homem
:
a barba crescia eu voltava
bebia com os pescadores
contava vantagem
*
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
fragil_idade
líria porto
meu coração uma bomba
bate/apanha leva tombo
cada tunda cada pé
na bunda
não tem vergonha?
*
meu coração uma bomba
bate/apanha leva tombo
cada tunda cada pé
na bunda
não tem vergonha?
*
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
doido
líria porto
desde que rachou a cabeça
o prego não bate bem
:
fica tão confuso
e em parafuso
enrosca-se inteirinho
na bucha da parede
*
desde que rachou a cabeça
o prego não bate bem
:
fica tão confuso
e em parafuso
enrosca-se inteirinho
na bucha da parede
*
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
sonolência
líria porto
sol meio sonso
desses d'inverno
roça o horizonte
e a minha janela
boquiaberta
fita-o de longe
como se quisesse
puxar pela ponta
sua manta
de lã
*
sol meio sonso
desses d'inverno
roça o horizonte
e a minha janela
boquiaberta
fita-o de longe
como se quisesse
puxar pela ponta
sua manta
de lã
*
terça-feira, 6 de setembro de 2011
carências
líria porto
chegou ela era velha
ele era alto simpático
tinha vigor mocidade
instalou-se em sua cama
deitou-se espichou as pernas
ficou lá tal qual um lord
aceitou – fazer o quê
melhor assim que ninguém
mesmo que fosse breve
desse-lhe aborrecimento
um fruto assim suculento
não se bota para fora
ela até que remoçou
tornou-se alegre vaidosa
comprou joias roupas de seda
vai lhe dar um automóvel
(um conversível vermelho)
vai pô-lo no testamento
(os sobrinhos
aqueles que nunca vê
chegou ela era velha
ele era alto simpático
tinha vigor mocidade
instalou-se em sua cama
deitou-se espichou as pernas
ficou lá tal qual um lord
aceitou – fazer o quê
melhor assim que ninguém
mesmo que fosse breve
desse-lhe aborrecimento
um fruto assim suculento
não se bota para fora
ela até que remoçou
tornou-se alegre vaidosa
comprou joias roupas de seda
vai lhe dar um automóvel
(um conversível vermelho)
vai pô-lo no testamento
(os sobrinhos
aqueles que nunca vê
estão furiosos)
*
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
escuridão
líria porto
amanhãs que tardam noites eternas
nenhum canto de galo nenhum pássaro
silêncios são espectros
*
amanhãs que tardam noites eternas
nenhum canto de galo nenhum pássaro
silêncios são espectros
*
domingo, 4 de setembro de 2011
passarim
líria porto
passo e peço
posso passear em seu paço
possuir um pedaço do espaço?
:
sim sim sim
se solfejares swing
*
passo e peço
posso passear em seu paço
possuir um pedaço do espaço?
:
sim sim sim
se solfejares swing
*
derradeira
líria porto
a passagem é uma viagem
às vezes rápida
às vezes morosa
:
e ninguém deixará
de fazê-la
*
a passagem é uma viagem
às vezes rápida
às vezes morosa
:
e ninguém deixará
de fazê-la
*
sábado, 3 de setembro de 2011
escola (um poema para diovani mendonça)
líria porto
letras são sementes em busca de mentes férteis
crianças são canteiros repletos de possibilidades
(pão e poesia alimentam corpo
e espírito)
*
letras são sementes em busca de mentes férteis
crianças são canteiros repletos de possibilidades
(pão e poesia alimentam corpo
e espírito)
*
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
andorinhas
líria porto
cortam recortam o espaço
picotam as nuvens o azul
entrelaçam os olhares
bicam a claridade
juntam depois espalham
a purpurina solar
*
cortam recortam o espaço
picotam as nuvens o azul
entrelaçam os olhares
bicam a claridade
juntam depois espalham
a purpurina solar
*
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
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